Uma jornalista da cadeia de televisão Al-Jazeera morreu esta quarta-feira enquanto cobria um ataque israelita na cidade de Jenin, na Cisjordânia ocupada, anunciou o Ministério da Saúde da Autoridade Palestiniana.
Shireen Abu Akleh, conhecida repórter palestiniana do canal árabe da emissora do Catar, foi baleada na cabeça. Morreu pouco depois, informou o Ministério. Outro repórter, do jornal “Al-Quds”, de Jerusalém, também foi ferido, mas encontra-se estável, acrescentou.
O Ministério adiantou que os jornalistas foram atingidos durante um ataque israelita. Imagens de vídeo mostram Abu Akleh tinha vestido um colete azul à prova de bala, onde estava escrita a palavra “Press” (imprensa).
O exército israelita afirmou ter ripostado a um intenso ataque durante as operações em Jenin. Além disso, explicou estar “a investigar a ocorrência e a analisar a possibilidade de os jornalistas terem sido atingidos por atiradores palestinianos”.
18 mortos desde março
As forças de segurança israelitas intensificaram, no último mês, ataques e “operações antiterroristas” na Cisjordânia, sobretudo na área de Jenin, em resposta a uma onda de ataques em Israel, desde o final de março, e na qual morreram 18 pessoas. Por seu lado, a Al-Jazeera acusou Israel de ter “assassinado a sangue frio” a jornalista Shireen Abu Akleh.
“Num trágico assassínio premeditado que viola as leis e as normas internacionais, as forças de ocupação israelitas mataram, a sangue frio, a nossa jornalista Shireen Abu Akleh”, indicou, em comunicado, a rede internacional da Al-Jazeera, com sede em Doha.
O produtor Ali al-Samudi, da Al-Jazeera, também foi “atacado ao ser atingido nas costas durante a cobertura e agora está a receber tratamento”, lê-se no comunicado da TV. Os dois jornalistas estavam identificados como “imprensa” nos coletes que envergavam.
“Condenamos este crime atroz”, pelo qual “responsabilizamos o Governo israelita e as forças de ocupação”, acusou a emissora. A Al-Jazeera pede à comunidade internacional que “condene e responsabilize as forças de ocupação israelitas por terem atacado e matado deliberadamente a colega Shireen Abu Akleh”.
Governo israelita acusa palestinianos
Em reação à morte da profissional, o primeiro-ministro israelita considera provável que Abu Akleh tenha sido vítima de fogo palestiniano. Para Naftali Bennet, a Autoridade Palestiniana de Mahmud Abbas “atira as culpas para Israel sem qualquer fundamento”.
O governante cita informação obtida pelo seu Executivo, segundo a qual havia palestinianos “a disparar indiscriminadamente” e que até se gabaram de ter atingido um soldado. Ora, prossegue Bennett, dado que nenhum militar israelita foi ferido, é possível que a vítima fosse a jornalista.
O ministro da Defesa israelita, Gideon Sa’ar, corroborou esta versão e acusou os governantes palestinianos de não quererem cooperar na investigação. O produtor Samudi, também alvejado, diz que é “mentira completa” que o tiro tivesse vindo de palestinianos.
Já Mansour Abbas, líder de um partido árabe e único da sua comunidade a integrar o Executivo israelita, não atribuiu culpas, antes reivindicando o apuramento cabal dos factos. Outras forças de esquerda, como o partido Meretz, afirmam que na base do ocorrido está “a ocupação” da Palestina.