Internacional

Juan Carlos I invoca imunidade para evitar julgamento em Inglaterra por alegado assédio à ex-amante

Corinna zu Sayn-Wittgenstein diz ter sido vítima de uma campanha de intimidação organizada pelo rei emérito de Espanha após o caso extraconjugal entre os dois ter terminado. Advogados de Juan Carlos I argumentam que, enquanto membro da família real espanhola, os tribunais ingleses não têm jurisdição para prosseguir com o caso

Daniel Perez/Getty Images

Juan Carlos I está a tentar obter imunidade perante os tribunais ingleses. O ex-rei de Espanha está acusado pela ex-amante, a empresária dinamarquesa Corinna zu Sayn-Wittgenstein, de a ter espiado e assediado após o término da relação.

O pedido foi submetido esta segunda-feira num tribunal de Londres, onde a empresária avançou com um processo civil por danos pessoais. Corinna zu Sayn-Wittgenstein diz que foi ameaçada e que teve as suas propriedades invadidas a mando do ex-monarca, que estava a exigir a devolução das prendas oferecidas durante a relação, incluindo obras de arte, joias e mais de 76 milhões de euros em dinheiro.

De acordo com a AFP, os documentos apresentados em tribunal indicam que o par teve "uma relação romântica íntima" entre 2004 e 2009. Segundo a acusação, a situação descambou quando Corinna zu Sayn-Wittgenstein rejeitou reatar a ligação e o ex-rei terá assumido "um padrão de conduta que se qualifica como assédio".

Segundo detalhes avançados pelo "The Guardian", Juan Carlos, o seu "associado" Gen Sanz Roldán e outros funcionários próximos do então chefe dos serviços de informações espanhóis começaram a "ameaça-la e aos filhos". As ameaças começaram alegadamente em 2012, dois anos antes do monarca abdicar do trono, durante uma reunião em Londres entre Roldán e a empresária, e continuaram mesmo depois de Filipe VI ser coroado.

Enquanto a reunião em Londres estava a decorrer, a vila na Suíça e o apartamento no Mónaco da empresária foram invadidos. Corinna zu Sayn-Wittgenstein diz que papéis que tinha no apartamento foram "mexidos" e alguém deixou um livro sobre a morte da Princesa Diana numa mesa de café da vila.

Em 2017, a sua casa em Shropshire, nos arredores de Birmingham (Reino Unido), foi alvo de uma operação de vigilância. Uma das janelas do quarto foi perfurada. No ano passado, as câmaras de vigilância da mesma residência foram alvejadas. Os dois incidentes foram reportados às autoridades.

Agora, Corinna avança com uma ação legal para exigir compensação pela "grande dor psicológica, alarme, ansiedade, sofrimento, perda de bem-estar, humilhação e estigmatização social que sofreu".

Os seus advogados argumentam que Juan Carlos perdeu o estatuto como soberano ou chefe de Estado quando abdicou do trono e, como tal, não deve gozar de imunidade. Os advogados do monarca argumentam que de acordo com o "State Immunity Act 1978" (lei britânica), o ex-rei tem imunidade na jurisdição dos tribunais ingleses e que quaisquer alegações contra ele têm de ser levadas ao Supremo espanhol.