Os professores franceses estão “devastados” mas prometem continuar a incentivar o “espírito crítico” dos alunos, sem medo de “ensinar temas difíceis” aos estudantes. “Continuaremos a falar sobre liberdade de expressão. Se houver assuntos delicados, continuaremos a ensiná-los”, garante Jean-Rémi Girard, presidente do sindicato Conseil Supérieur de l'Éducation.
“Tentaremos encorajar o espírito crítico dos nossos alunos e explicar que todos têm o direito de discordar”, afiançou o sindicalista, antes de reunir com o ministro da Educação Jean-Michel Blanquer e com o primeiro-ministro Jean Castex. “É assustador ver que na França do século XXI um professor pode ser decapitado na rua por fazer o seu trabalho”, condena o responsável.
A onda de choque estendeu-se às redes sociais, onde no Twitter rapidamente se tornou viral a hashtag #JeSuisProf (Eu sou um professor), fazendo alusão ao popular chavão “Je Suis Charlie”, que emergiu após o ataque a 7 de janeiro de 2015 à sede do jornal satírico francês.
Um colega da vítima, também no Twitter, escreveu: “Estou destruído. Samuel Paty foi meu colega de formatura. Era um estudante brilhante, um superprofessor, um homem de diálogo. Citarei o teu nome e o teu exemplo, camarada, a todos que quererão ainda exercer essa linda profissão”.
O assassinato de Samuel Paty, professor de História e Geografia do segundo ciclo, chocou o mundo. O francês de 47 anos foi decapitado esta sexta-feira, muito perto do liceu localizado na pequena cidade de Conflans-Sainte-Honorine onde dava aulas, dias após ter mostrado aos seus alunos caricaturas do profeta Maomé.
Os cartoons foram mostrados durante uma aula de educação cívica e moral, de frequência obrigatória, na qual Samuel Paty falava sobre liberdade de expressão, mas, ainda assim, teve o cuidado de permitir que estudantes muçulmanos abandonassem temporariamente a sala.
“Era para que os alunos não se chocassem. O professor não quis faltar ao respeito”, relatou o pai muçulmano de um dos alunos da turma.
Dias antes do “típico ataque terrorista islâmico”, como descreveu Emmanuel Macron, tanto o professor como o colégio receberam vários telefonemas ameaçadores.
O autor do ataque foi um jovem com 18 anos, de origem chechena, que gritou “Allah Akbar” momentos antes de ser abatido pela polícia. Dez pessoas já foram detidas e sujeitas a interrogatório, por alegado envolvimento no crime.