O aviso do comissário europeu que tem a pasta do Mercado Interno é claro: o mercado único europeu não tem futuro "se apenas forem salvas uma ou duas indústrias, de um ou dois estados- membros". Durante e no pós-pandemia.
Em entrevista ao Expresso, Thierry Breton sublinha que a integração económica é tal que todos os países "têm o mesmo interesse em que (o mercado) sobreviva" à crise. Se os mais afetados caírem por falta de apoio ou capacidade de investimento, todos são afetados, a começar pelos grandes beneficiários da livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais.
O francês lembra que 50% das exportações alemãs são para países da UE e que no caso dos Países Baixos a percentagem supera os 60%. "Se não houver mercado interno, não há indústria alemã" e "a indústria holandesa morre".
Questionado sobre se Berlim e Haia vão aceitar um plano de recuperação com uma componente de subsídios e não apenas empréstimos, o francês responde ainda que os 27 "estão no mesmo barco", que todos terão de recorrer ao crédito para fazer face às consequências da Covid19 e que "é justo" que nestas circunstâncias tenham condições "iguais" na capacidade de empréstimo e no acesso ao dinheiro.
Pode o Mercado Interno sobreviver só com empréstimos?
A Comissão Europeia continua sem confirmar em que data vai apresentar a nova proposta de Orçamento Comunitário para 2021-27, juntamente com uma proposta de fundo/instrumento de recuperação económica. Bruxelas está ainda à procura de uma fórmula que possa ser aceite pelos 27, numa altura em que se antecipa um braço-de-ferro entre os que defendem que o novo fundo deverá ter uma forte componente de subsídios - juntamente com o quadro financeiro plurianual - e não apenas de empréstimos, como defendem a Holanda, Suécia, Dinamarca e até certo ponto a Alemanha.
"Penso que é importante haver subsídios e empréstimos porque esta é uma crise muito específica", afirma Breton. O comissário defende subvenções para "apoiar as atividades que mais sofreram" e admite que "muitas pequenas e médias empresas vão precisar" deste tipo de ajuda a fundo perdido.
Por outro lado, entende que deve também ser garantido o acesso a empréstimos para ajudar as empresas, por exemplo, "a reorganizarem-se" num novo tipo de turismo após a crise.