Internacional

Coronavírus. Macau, sem jogo e sem gente

O encerramento dos casinos esvaziou as ruas e fragilizou a economia de Macau. A ameaça da propagação do coronavírus afastou os turistas e remeteu a população ao recolhimento. As consequências do surto vieram para ficar e os números não param de aumentar: sábado foi o dia mais mnortífero desde que a crise começou, com mais de 80 mortes registadas em 24 horas

ANTHONY WALLACE/GETTY IMAGES

Desta vez, o calendário parece ter passado por cima de um dos períodos do ano mais ocupados no território de Macau, na sequência da comemoração do novo ano lunar chinês, o território estava habituado a receber milhões de turistas, animados com a perspetiva de jogar nos inúmeros casinos que sustentam a económia da antiga colónia portuguesa. Mas o novo coronavírus e o receio de contágio adiou viagens e fechou as pessoas em casa. A economia parece ter parado, houve casinos e hotéis inteiros que deixaram de funcionar. E as ruas, esvaziadas, parecem percursos de sombras.

A agência Reuters avança que, há uma semana, a entrada de turistas havia diminuído cerca de 70%. As ligações com a China continental foram reduzidas e dezenas de voos e barcos acabaram mesmo por ser cancelados. As empresas e bancos, cinemas, teatros, ginásios, salões de beleza, restaurantes e outros locais de entretenimento optaram por encerrar as atividades e mesmo o comércio reduziu-se ao mínimo. A fachada de pedra das ruínas de São Paulo, o ponto turístico mais emblemático do território parecia esquecida no tempo, sem o habitual burburinho dos visitantes. Mas era, sobretudo, nos casinos que se notavam os principais efeitos da crise que ultrapassa a fronteiras da saúde pública e atinge em cheio a economia.

As autoridades chinesas decidiram na passada terça-feira fechar as 41 casas de jogo para já durante quinze dias, como forma de tentar travar a propagação do vírus no território. A decisão alterou o funcionamento de Macau, conhecida como a capital mundial do jogo. Há casos identificados de pessoas infetadas no Galaxy Casino, um dos estabelecimentos de jogo mais movimentados da cidade. "É claro que essa foi uma decisão difícil, mas devemos fazê-lo pela saúde dos residentes", defendeu o presidente-executivo do território sob administração chinesa, Ho la Seng numa entrevista televisiva.

O site especializado "Macau Business" avança que o encerramento dos casinos durante 15 dias deverá resultar numa perda de mais de mil milhões de euros na receita de jogos, com um impacto nas receitas anuais do território de pelo menos seis por cento. a expetativa é de que as visitas de turistas diminuam 80% para a média do mês de fevereiro e os analistas afirmam que a recuperação só poderá começar a ser sentida a partir do segundo semestre deste ano. Perante a gravidade do cenário, o governo já prometeu avançar com medidas excecionais de apoio à economia.

"Não teremos receitas de jogos nesta metade do mês e os outros setores contribuíram de forma mínima. Lançaremos diferentes programas de redução de impostos para apoiar a cidade neste período difícil, mas definitivamente teremos um défice orçamental este ano", afirmou Ho la Seng, sem retirar do rosto a máscara azul.

No total, as mortes por coronavírus já chegaram às 811 na China e o número de infetados ultrapassa os 371 mil. Segundo o Ministério da Saúde chinês, nas últimas 24 horas foram registados 89 óbitos, fazendo deste sábado o dia mais mortífero desde o início do surto. A maioria dos casos ocorreu na província de Hubei. Mas muitos médicos, contudo, acreditam que os números estão subavaliados, afirma o "New York Times".

A China aceitou a formação de uma equipa internacional de especialistas no âmbito da atuação da Organização Mundial da Saúde. Vão viajar para a região continental do país com o objetivo de estudas o vírus e tentar encontrar soluções para a crise. A informação foi divulgada por um porta-voz da embaixada americana naquele país à Reuters e a chegada da equipa está prevista para segunda ou terça-feira.