O rascunho de um livro do antigo conselheiro de segurança nacional John Bolton revela como o Presidente dos EUA, Donald Trump, lhe falou da sua determinação em reter a ajuda militar à Ucrânia até que Kiev concordasse em investigar o rival democrata Joe Biden.
O relato desfaz as alegações de Trump de que o atraso no envio da ajuda e os esforços para convencer o seu homólogo ucraniano a anunciar uma investigação não estão relacionados, escreveu este domingo o jornal “The New York Times” (NYT) ao revelar excertos do livro.
As passagens transcritas contêm detalhes sobre a atuação de altos funcionários da Casa Branca, incluindo o Secretário de Estado, Mike Pompeo, o procurador-geral, William Barr, e o chefe de gabinete interino, Mick Mulvaney.
Bolton tem posto a circular passagens de “The Room Where It Happened” (A Sala Onde Aconteceu), com edição marcada para 17 de março, tendo enviado o rascunho do livro para a Casa Branca.
“John Bolton tem as provas”
A defesa de Trump prepara-se para fazer as suas alegações esta segunda e terça-feira no Senado, na segunda semana do julgamento político de ‘impeachment’. As passagens citadas do livro de Bolton reforçam a intenção dos democratas de chamar novas testemunhas a depor, com o ex-conselheiro de segurança nacional à cabeça.
O líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, reagiu no Twitter às revelações feitas pelo NYT, escrevendo: “John Bolton tem as provas. Cabe a quatro senadores republicanos garantir que John Bolton, Mick Mulvaney e os outros com conhecimento direto das ações do Presidente Trump testemunhem no julgamento do Senado.”
Schumer refere-se à maioria republicana no Senado de 53 contra 47 democratas. Tendo em conta a distribuição dos senadores, os democratas só precisam do apoio de quatro republicanos para terem a maioria necessária para convocar as testemunhas.
Já o ‘impeachment’ em si necessita de uma maioria de dois terços para que Trump seja efetivamente destituído, um cenário bastante improvável, uma vez que, até ao momento, nenhum senador republicano deu indicação de que votaria pela destituição.
Bolton disponível para testemunhar
No final do ano passado, Bolton mostrou-se disponível para testemunhar. “Se o Senado emitir uma intimação para o meu testemunho, estou preparado para o fazer”, revelou em comunicado.
Os democratas, maioritários na Câmara dos Representantes, a câmara baixa do Congresso, aproveitaram a disponibilidade manifestada para reforçarem que Bolton e três funcionários atuais da Administração deveriam testemunhar no julgamento do Senado, a câmara alta, liderada pelos republicanos.
Abuso de poder e obstrução do Congresso
O ‘impeachment’ centra-se nas alegações de que Trump pressionou a Ucrânia a anunciar publicamente uma investigação ao ex-vice-Presidente democrata Joe Biden. Em concreto, o Presidente ucraniano deveria anunciar que estava em curso uma investigação à produtora de gás Burisma, que contratara Hunter, filho de Biden, e só assim Kiev receberia a ajuda militar prometida.
Em dezembro, a Câmara dos Representantes aprovou duas acusações formais de abuso de poder e obstrução à ação do Congresso. Os democratas consideram que Trump abusou do cargo que ocupa ao pedir a Kiev para investigar Biden, um dos candidatos mais bem posicionados para conseguir a nomeação democrata às eleições de novembro. A acusação de obstrução baseia-se nas diretivas da Casa Branca para que os seus funcionários não cooperassem com o inquérito à destituição presidencial e para não serem disponibilizados os documentos solicitados.
Trump nega ter cometido quaisquer irregularidades e classifica o processo de ‘impeachment’ como “uma farsa”.