O embaixador dos EUA para a União Europeia, Gordon Sondland, prestou esta quarta-feira um depoimento arrasador para o Presidente Donald Trump. “Os membros desta comissão estruturam frequentemente estas questões complicadas na forma de uma pergunta simples: houve um ‘quid pro quo’ [uma contrapartida]? Como testemunhei anteriormente, em relação ao telefonema e ao encontro na Casa Branca solicitados, a resposta é: sim”, disse, em audição pública no âmbito do processo de ‘impeachment’.
O inquérito de destituição presidencial centra-se nas alegações de que Trump pressionou a Ucrânia a anunciar publicamente uma investigação ao ex-vice-Presidente Joe Biden. Em concreto, o Presidente Volodymyr Zelensky deveria anunciar que estava em curso uma investigação à produtora de gás Burisma, que contratara Hunter, filho de Joe Biden, e só assim Kiev receberia a prometida ajuda militar norte-americana. O antigo vice-Presidente é um dos candidatos mais bem posicionados para conseguir a nomeação democrata às presidenciais do próximo ano em que Trump tentará a reeleição. O atual Presidente tem feito acusações de corrupção, já refutadas, sobre Biden e o filho Hunter.
A ajuda militar à Ucrânia foi finalmente libertada em setembro, depois de um denunciante ter dado o alerta sobre um telefonema de 25 de julho entre os Presidentes Trump e Zelensky. A queixa do denunciante levou os democratas, maioritários na Câmara dos Representantes, a darem início a uma investigação de ‘impeachment’.
“Sabíamos que as investigações eram importantes para o Presidente”
Sondland, um empresário do ramo da hotelaria e financiador da campanha de Trump, não tinha qualquer experiência diplomática quando foi nomeado embaixador em Bruxelas. Tem sido descrito como um dos “três amigos” que a Administração usou para contornar os canais habituais do Departamento de Estado relativamente à Ucrânia.
Considerado uma testemunha-chave no processo, Sondland declarou que uma reunião na Sala Oval estava dependente do anúncio pelas autoridades ucranianas de investigações aos Biden e a uma teoria da conspiração, amplamente desacreditada, de que Kiev tinha plantado num servidor do Partido Democrata alegadas provas de que a Rússia interferira nas eleições de 2016.
“Os pedidos do senhor Giuliani [Rudy Giuliani, advogado pessoal de Trump] foram um ‘quid pro quo’ para organizar uma visita do Presidente Zelensky à Casa Branca. O senhor Giuliani estava a expressar os desejos do Presidente dos Estados Unidos e nós sabíamos que essas investigações eram importantes para o Presidente”, disse.
“Não o conheço muito bem”, diz Trump
O embaixador negou veementemente qualquer envolvimento nalguma forma “diplomacia irregular ou não autorizada”, declarando que manteve o Departamento de Estado e o Conselho de Segurança Nacional informados das suas atividades. “Estavam todos a par, não era segredo”, sublinhou, incluindo o vice-Presidente, Mike Pence, e o Secretário de Estado, Mike Pompeo, entre as pessoas informadas.
Antes da audição desta quarta-feira, Sondland já tinha voltado atrás numa alegação inicial, à porta fechada, de que não se lembrava de quaisquer conversas sobre o anúncio de uma investigação em troca de ajuda militar.
Em reação à audição de Sondland, Trump disse: “Não o conheço muito bem. Não falei muito com ele. Não é um homem que eu conheça bem. Mas parece um tipo simpático.”