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Embaixador na UE “vai contar a história toda” ou será “companheiro de cela” de estratega de Trump

A aposta é de Nick Akerman, antigo procurador do escândalo Watergate. “Se eu fosse o advogado dele, estaria a pressioná-lo para garantir que ele diria tudo o que sabe, para ter a certeza de que ele não iria sacrificar-se por Trump”, disse. O embaixador na UE testemunha esta quarta-feira em audição pública no âmbito do processo de ‘impeachment’

Gordon Sondland
DANIEL MIHAILESCU/AFP/Getty Images

O antigo procurador do escândalo Watergate, que levou ao processo de ‘impeachment’ do Presidente Richard Nixon, Nick Akerman, prevê que a audição pública desta quarta-feira do embaixador dos EUA na União Europeia (UE), Gordon Sondland, será prejudicial para Donald Trump.

“Sondland vai contar a história toda, com documentos detalhados e com muitas testemunhas a corroborar. Não há dúvidas de que [a Administração Trump] tentou que o Governo ucraniano anunciasse uma investigação a Joe Biden”, afirmou Akerman na segunda-feira à CNN. “E usaram dinheiro aprovado pelo Congresso dos EUA para fazer isso. Suborno puro”, acrescentou.

O inquérito de destituição centra-se nas alegações de que Trump pressionou a Ucrânia a anunciar publicamente uma investigação ao ex-vice-Presidente Joe Biden. Em concreto, o Presidente Volodymyr Zelensky deveria anunciar que estava em curso uma investigação à produtora de gás Burisma, que contratara Hunter, filho de Joe Biden, e só assim Kiev receberia a prometida ajuda militar norte-americana.

O antigo vice-Presidente é um dos candidatos mais bem posicionados para conseguir a nomeação democrata às presidenciais do próximo ano em que Trump tentará a reeleição. O atual Presidente tem feito acusações de corrupção, já refutadas, sobre Biden e o filho Hunter.

A ajuda militar à Ucrânia foi finalmente libertada em setembro, depois de um denunciante ter dado o alerta sobre um telefonema de 25 de julho entre os Presidentes Trump e Zelensky. A queixa do denunciante levou os democratas, maioritários na Câmara dos Representantes, a darem início a uma investigação de ‘impeachment’.

Sondland “não tem escolha” senão “abrir o jogo”

O embaixador norte-americano na UE já voltou atrás na sua alegação inicial, à porta fechada, de que não se lembrava de quaisquer conversas sobre o anúncio de uma investigação por Kiev em troca de ajuda militar. O ex-procurador do Watergate sublinhou à CNN que Sondland “não tem escolha” senão “abrir o jogo” sobre o seu papel e o papel de Trump no caso.

“Caso contrário, acabará como Roger Stone numa prisão federal, tendo Roger Stone como companheiro de cela. Ele não quer que isso aconteça”, declarou Akerman. Stone é um estratega do Partido Republicano e um colaborador de longa data de Trump. Na sexta-feira, foi considerado culpado em sete acusações de mentir aos investigadores da alegada ingerência russa nas eleições de 2016. Stone conhecerá a sua sentença no próximo ano.

Referindo-se a Sondland, o antigo procurador do Watergate acrescentou: “Se eu fosse o advogado dele, estaria a pressioná-lo bastante para garantir que ele diria tudo o que sabe, toda a pequena prova, para ter a certeza de que ele não iria sacrificar-se por Donald Trump.”

Nixon e o escândalo Watergate

Em junho de 1972, cinco homens assaltaram a sede do Comité Nacional Democrata em Washington, tendo sido detidos quando tentavam fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta. O escândalo, conhecido como Watergate devido ao complexo onde se situava o escritório do Partido Democrata, atingiu Richard Nixon, que tentou encobrir o envolvimento da sua Administração.

A comissão de Justiça da Câmara dos Representantes apresentou três artigos de ‘impeachment’ contra o Presidente por “altos crimes e delitos”. No entanto, Nixon renunciou ao cargo a 9 de agosto de 1974, antes de o processo poder avançar, isto é, antes de poder ser destituído. Nixon tinha tomado posse em janeiro de 1969.