A presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, convidou o Presidente dos EUA, Donald Trump, a testemunhar perante os investigadores do ‘impeachment’, o processo de destituição presidencial. “Se ele tem informações desculpabilizantes, estamos ansiosos por vê-las”, declarou numa entrevista difundida este domingo no programa “Face the Nation” da CBS. “Trump pode apresentar-se perante a comissão e falar, contar toda a verdade que quiser, se quiser”, sublinhou Pelosi. Também poderá fazê-lo por escrito, sugeriu ainda.
A ideia parece agradar ao Presidente norte-americano, que horas depois da sugestão de Nancy Pelosi disse estar a “considerar fortemente” a hipótese de testemunhar, apesar de, como também escreveu no Twitter, não ter feito “nada de errado”.
Na semana passada, a líder dos democratas disse aos jornalistas que a pressão de Trump sobre a Ucrânia para que se investigasse um dos seus possíveis opositores nas eleições do próximo ano “faz com que o que Nixon fez pareça pequeno”. Na CBS, voltou a aludir à resignação de Nixon na sequência do escândalo de Watergate, que envolveu um assalto à sede do Partido Democrata e o posterior encobrimento.
O Presidente Richard Nixon demitiu-se em 1974 depois de a comissão de Justiça da Câmara dos Representantes ter aprovado artigos de ‘impeachment’ contra ele, mas antes de toda a Câmara votar sobre o assunto, não chegando, por isso, a ser destituído.
A comissão de Inteligência da câmara baixa do Congresso americano prepara-se para uma segunda semana de audições públicas. O processo centra-se nas alegações de que Trump pressionou a Ucrânia a anunciar publicamente uma investigação ao ex-vice-Presidente americano Joe Biden. Biden é um dos candidatos mais bem posicionados para conseguir a nomeação democrata às presidenciais do próximo ano em que Trump tentará a reeleição. O atual Presidente tem feito acusações de corrupção, já refutadas, contra Biden e o filho Hunter, que trabalhou para a Burisma, uma empresa ucraniana de gás.
“Garantirei que [Trump] não intimida o denunciante”
Os democratas alegam que Trump abusou do poder que lhe é conferido pela presidência para tentar levar uma potência estrangeira a beneficiar a sua campanha de reeleição. Esta foi, de resto, a acusação central de um denunciante anónimo da CIA, que se reportou a um telefonema de 25 de julho, entretanto transcrito com edições, entre Trump e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Durante a chamada, o Presidente norte-americano fez depender a disponibilização de ajuda militar a Kiev da abertura da investigação aos Biden. A ajuda foi finalmente libertada em setembro, depois de o denunciante ter dado o alerta. A queixa levou os democratas, maioritários na Câmara dos Representantes, a darem início a uma investigação de ‘impeachment’.
Pelosi comprometeu-se a proteger o denunciante, que Trump diz que deveria ser forçado a revelar a identidade. “Garantirei que ele não intimida o denunciante”, assegurou. A líder democrata apelidou o Presidente de “impostor” cuja insegurança o levou a atacar no Twitter uma das testemunhas, a ex-embaixadora dos EUA na Ucrânia Marie Yovanovitch, enquanto esta era ouvida na semana passada. “Ele cometeu um erro. Ele conhece a força dela e está a tentar minar isso”, declarou Pelosi.