O Congresso norte-americano ouviu esta quarta-feira testemunhos demolidores contra Donald Trump. Foram seis horas, ao longo das quais William Taylor, embaixador interino dos EUA em Kiev, e George Kent, funcionário sénior do Departamento de Estado, forneceram pistas sobre a forma como alegadamente o Presidente dos Estados Unidos exerceu pressão sobre a Ucrânia, com vista a conseguir o apoio do país para a sua reeleição.
Se muito do que foi ouvido era já do conhecimento público, depois de o conteúdo dos relatos feitos à porta fechada ter chegado ao conhecimento público, o arranque das audições públicas do processo de 'impeachment' trouxe outro impacto às suspeitas – a que não é alheio o poder do direto televisivo -, mas também algumas novidades.
Pela boca de William Taylor chegaram detalhes, no mínimo comprometedores. O diplomata recordou uma chamada telefónica ouvida por um elemento da sua equipa. A ligação (ocorrida a 26 de julho) teve Trump e Gordon Sondland, embaixador dos EUA na UE, como interlocutores e, no final, Sondland comentou que o Presidente norte-americano se importava mais com uma investigação sobre Joe Biden, antigo vice-presidente dos Estados Unidos que concorre nas primárias democratas para a corrida presidencial de 2020, do que com qualquer outra política relacionada com a Ucrânia.
Já depois das audições, respondendo às perguntas dos jornalistas, Trump disse não se lembrar desta suposta chamada: “Não sei nada sobre isso, ouvi pela primeira vez”.
Em foco no Congresso esteve também a diplomacia “irregular” de Rudy Giuliani, o advogado de Donald Trump. Sobre a natureza da sua ação e, em concreto, se com o papel que desempenhava estava a defender os interesses dos Estados Unidos na Ucrânia, William Taylor limitou-se a responder: “Julgo que não”. Foi secundado por George Kent, que acrescentou: “Não, não estava”.
“Creio que estava a tentar desenterrar algum podre político contra um potencial rival nas próximas eleições”, disse ainda Kent, que acusou Giuliani de ter realizado uma “campanha para difamar” a embaixadora dos EUA na Ucrânia, Marie Yovanovitch, que viria a ser retirada do posto.
Taylor e Kent concordaram noutro aspeto, considerando que o trabalho dos diplomatas resulta afetado e se torna mais difícil quando os líderes americanos pedem às potências estrangeiras que investiguem os seus oponentes. “A nossa credibilidade tem por base o respeito pelos Estados Unidos”, sublinhou o atual embaixador interino em Kiev.
As audições prosseguem esta sexta-feira, precisamente com Marie Yovanovitch a ser ouvida. A diplomata, que em maio foi abruptamente afastada do cargo, revelou no mês passado ter tido conhecimento de que Giuliani estaria interessado ou que já estaria a comunicar com alguém na Ucrânia, no final de 2018, com o propósito de investigar informações relevantes para o jogo político interno.