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Bolívia. De saída, Morales acusa: “golpistas estão a destruir o Estado de Direito”. México oferece asilo

O Presidente demissionário, Evo Morales, renunciou este domingo ao cargo na sequência de semanas de protestos após a sua reeleição, contestada nas ruas como fraudulenta, e depois da pressão das Forças Armadas e da Polícia da Bolívia. O seu principal opositor, Carlos Mesa, saúda “o fim da tirania” e o PT brasileiro fala em mais um “golpe na América Latina”

Evo Morales
Alexis Demarco/APG/Getty Images

O Presidente demissionário da Bolívia, Evo Morales, denunciou este domingo, “perante o mundo e o povo boliviano”, que “um agente da polícia anunciou publicamente que tem instruções para executar um mandado de prisão ilegal” contra ele.

Horas antes, Morales tinha-se demitido da presidência do país na sequência de semanas de protestos após a sua reeleição, contestada nas ruas como fraudulenta. No mesmo dia, os chefes das Forças Armadas e da Polícia da Bolívia já haviam exigido que o Presidente saísse para que a estabilidade e a paz pudessem regressar ao país.

No Twitter, Morales queixa-se ainda que “grupos violentos assaltaram” a sua casa e que “os golpistas estão a destruir o Estado de Direito”.

A renúncia, anunciada na televisão nacional, foi acompanhada pela demissão do vice-Presidente, Álvaro García Linera.

“Golpe cívico e de alguns setores da polícia”

Explicando os motivos para o seu afastamento do cargo, Morales apontou o dedo ao seu principal rival nas eleições de 20 de outubro, Carlos Mesa, e ao advogado que tem liderado o movimento de protestos, Luis Fernando Camacho. “Por que motivo tomei esta decisão? Para que Mesa e Camacho não continuem a perseguir os meus irmãos dirigentes sindicais. Para que Mesa e Camacho não continuem a queimar a casa dos governadores de Oruro e Chuquisaca”, disse no anúncio televisivo.

“Lamento muito este golpe cívico e de alguns setores da polícia que se juntaram para atentar contra a democracia, contra a paz social com violência, com amedrontamento para intimidar o povo boliviano”, acrescentou.

O domingo tinha começado com o anúncio de que Morales convocaria novas eleições, após a Organização dos Estados Americanos ter deliberado que as eleições do mês passado tinham sido fraudulentas.

“Nunca me esquecerei deste dia único”

Mesa reagiu agradecendo “à Bolívia, ao seu povo, aos jovens, às mulheres, ao heroísmo da resistência pacífica”. “Nunca me esquecerei deste dia único. O fim da tirania”, garantiu, reiterando que se sente “agradecido como boliviano por esta lição” e proclamando: “Viva a Bolívia!”.

Além de Morales e do seu vice, renunciaram igualmente a presidente do Senado, Adriana Salvatierra, e o presidente da Câmara dos Deputados, Víctor Borda. Já a presidente do Supremo Tribunal Eleitoral, María Eugenia Choque Quispe, que tinha renunciado ao cargo de manhã, foi detida pela polícia após a renúncia de Morales.

Entretanto, o ministro mexicano dos Negócios Estrangeiros, Marcelo Ebrard, fez saber que o seu país daria asilo a Morales se este lho pedisse, informando ter recebido 20 funcionários e deputados bolivianos na sua residência em La Paz. O Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, reconheceu no Twitter “a atitude responsável de Morales, que preferiu renunciar a expor o seu povo à violência”.

O Governo cubano expressou a sua solidariedade com o Presidente cessante, enquanto Gleisi Hoffmann, a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores brasileiro, de Lula da Silva, disse que “a direita não combina com a democracia” e denunciou o que apelidou de “outro golpe na América Latina”.