Internacional

“Farage arrisca-se a ser a pessoa que deixará o Brexit evaporar-se”. Líder eurocético sob pressão

O líder do Partido do Brexit está a ser pressionado por destacadas figuras dos conservadores para retirar os seus candidatos às eleições de dezembro. “Em 2015 ouvi os mesmos argumentos: ‘Não nos tires os nossos votos!’. O UKIP tirou mais votos ao Labour do que aos conservadores. Cameron nem teria conseguido uma maioria sem o UKIP”, retorquiu Farage

Christopher Furlong/GETTY IMAGES

Destacadas figuras do Partido Conservador britânico têm pressionado o líder do Partido do Brexit, Nigel Farage, para que este retire os seus candidatos às eleições de 12 de dezembro, noticiou esta segunda-feira o jornal “Evening Standard”. Entre essas figuras estão o líder da Câmara dos Comuns, Jacob Rees-Mogg, e a ministra do Trabalho, Thérèse Coffey.

Rees-Mogg defendeu que Farage poderá entregar a vitória ao líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, e fazer descarrilar permanentemente a saída do Reino Unido da União Europeia. O líder dos Comuns referiu que, se Farage “não se retirar de campo”, pode vir a “arrancar uma derrota das garras da vitória”.

Em entrevista à BBC, a ministra do Trabalho reforçou a tese, dizendo que “Farage se arrisca a ser a pessoa que deixará o Brexit evaporar-se”. “Claramente, apenas o Partido Conservador tem a oportunidade nestas eleições de estar no Governo”, sublinhou.

Farage não é candidato mas percorre o país para apoiar os seus

No domingo, o eurocético Farage anunciou que não será candidato às legislativas antecipadas, preferindo percorrer o país para apoiar as centenas de candidatos do partido que lidera.

Paul Brothwood, um candidato do Partido do Brexit, desertou entretanto para os tories. Segundo ele, “a família dos conservadores está empenhada em cumprir o Brexit” e o acordo de saída conseguido pelo primeiro-ministro, Boris Johnson, é o melhor possível.

Na semana passada, o chefe do Governo rejeitou a oferta de Farage de um pacto se Johnson desistisse do acordo que assinou com Bruxelas. Desde então, um coro de apoiantes do Brexit aumentou a pressão sobre Farage mas este não parece deixar-se demover.

“Vamos prejudicar o Labour da maneira mais extraordinária”

“Liderei o UKIP [Partido de Independência do Reino Unido] nas eleições de 2015 e ouvi as mesmas coisas, os mesmos argumentos: a tribo dos tories a gritar ‘Não nos tires os nossos votos!’. O UKIP tirou mais votos ao Labour do que aos conservadores. [O antigo primeiro-ministro David] Cameron nem teria conseguido uma maioria sem o UKIP”, retorquiu Farage, em declarações à estação de televisão ITV.

“Vamos prejudicar o Partido Trabalhista da maneira mais extraordinária. Faremos isso na Gales do Sul, faremos isso nas Midlands, faremos isso no norte da Inglaterra. Esses eleitores trabalhistas foram completamente traídos pelo Labour. Eles são o meu alvo número um. Consegui esses votos em 2015 e fá-lo-ei de novo”, rematou.

“Saída de Farage seria enorme poupança do dinheiro dos contribuintes”

O principal negociador do Parlamento Europeu para o Brexit, Guy Verhofstadt, troçou da decisão de Farage de recusar ser deputado no Parlamento britânico e de se manter como eurodeputado.

“É bastante irónico que os assuntos europeus sejam mais importantes para Nigel Farage do que a política da Grã-Bretanha. É uma pena. A sua saída seria uma enorme poupança do dinheiro dos contribuintes europeus”, escreveu no Twitter.

A dissolução do Parlamento britânico, agendada para esta quarta-feira, marca o arranque oficial da campanha para as eleições de dezembro. Um dos pontos altos será o debate entre Johnson e Corbyn na ITV a 19 de novembro. No dia 28, o debate alargar-se-á à líder dos Liberais Democratas, Jo Swinson, e será transmitido na Sky News.

Estas serão as primeiras legislativas em dezembro no Reino Unido desde 1923.