O tenente-coronel Alexander Vindman, especialista em assuntos ucranianos no Conselho de Segurança Nacional dos EUA, fez parte de um pequeno grupo de funcionários da Casa Branca designados para acompanhar o telefonema de 25 de julho entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o seu homólogo da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Esta terça-feira, Vindman é ouvido pelos investigadores do ‘impeachment’ e, de acordo com um rascunho da sua declaração de abertura, dirá que ficou “perturbado” com a exigência de Trump para Kiev investigar o rival político Joe Biden.
“Não achava apropriado exigir que um Governo estrangeiro investigasse um cidadão dos EUA, e estava preocupado com as implicações no apoio do Governo americano à Ucrânia”, dirá Vindman, segundo o jornal “The Washington Post”. O diário lembra que o testemunho do oficial do Exército é o primeiro de um funcionário da Casa Branca que ouviu a polémica chamada telefónica, que foi revelada por um denunciante e desencadeou o processo de destituição presidencial.
As suas declarações reforçam os testemunhos anteriores da sua antiga chefe no Conselho de Segurança Nacional, Fiona Hill, e do embaixador interino dos EUA na Ucrânia, William Taylor.
Vindman e a sua família fugiram da União Soviética quando ele tinha três anos, e ele descreve-se simultaneamente como um imigrante e um patriota. “É meu dever sagrado e uma honra promover e defender o nosso país, independentemente de partidos ou políticas”, dirá antes de ser ouvido pelos investigadores. E acrescentará: “Não sei quem é o denunciante e não me sinto à vontade para especular.”
“Investigar Biden e o filho nada tem a ver com segurança nacional”
O oficial deverá ainda referir-se a uma reunião, a 10 de julho, durante a qual Gordon Sondland, um dos principais doadores de Trump e embaixador dos EUA na União Europeia, terá dito que, para conseguirem um encontro com Trump, os ucranianos teriam de “investigar as eleições de 2016, os Bidens e a Burisma”.
A Burisma é uma empresa ucraniana de gás natural que contratou um dos filhos de Joe Biden, Hunter Biden, para integrar o seu conselho de administração. Joe Biden, ex-vice-Presidente de Barack Obama, está na linha da frente da corrida à nomeação democrata para as eleições do próximo ano, em que Trump tentará a reeleição.
“Eu disse ao embaixador Sondland que as suas declarações eram inapropriadas, que o pedido para investigar Biden e o seu filho nada tinha a ver com segurança nacional, e que tais investigações não eram algo em que o Conselho de Segurança Nacional iria envolver-se ou pressionar”, prosseguirá Vindman. E concluirá: “Uma Ucrânia forte e independente é fundamental para os interesses de segurança nacional dos EUA porque a Ucrânia é um baluarte contra a agressão russa.”
O testemunho de Vindman acontece dois dias antes de uma votação para autorizar o processo de ‘impeachment’, solicitado pela presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. A convocatória da líder democrata segue-se às críticas do Partido Republicano de que o processo visa apenas ganhos políticos e impede Trump de se defender convenientemente.