O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, troçou esta quarta-feira com a eventual interferência estrangeira em eleições norte-americanas. Quando questionado sobre as preocupações com a possibilidade de o Kremlin interferir nas presidenciais do próximo ano nos EUA, Putin sussurrou: “Vou contar-vos um segredo: sim, claro que vamos fazer isso para finalmente vos fazermos felizes. Só não digam a ninguém.”
“Sabem, já temos problemas que cheguem. Estamos empenhados em resolver problemas internos, é principalmente nisso que estamos focados”, acrescentou, falando num painel de uma conferência sobre energia em que também participava o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Mohammed Barkindo.
“A minha vida anterior ensinou-me que qualquer conversa pode tornar-se pública”
O líder russo também comentou o escândalo motivado pela conversa telefónica entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, e que levou o Partido Democrata a abrir um procedimento de ‘impeachment’. “Não fui Presidente a minha vida toda. A minha vida anterior ensinou-me que qualquer conversa pode tornar-se pública”, disse. “Por isso, quando tentaram lançar um escândalo relativamente à minha reunião com Trump em Helsínquia [no ano passado], dissemos diretamente à Administração [americana] que tornasse a conversa pública. Se alguém quer saber alguma coisa, publiquem-na. Não nos importamos”, juntou.
Após a cimeira entre os dois países na capital finlandesa, a Casa Branca foi questionada ao constatar-se que a transcrição oficial omitia uma parte de uma pergunta. Trump também foi criticado depois de ter confiscado as notas de tradutor de uma outra conversa com Putin. “Garanto-vos que não havia ali nada que pudesse comprometer o Presidente Trump. Tanto quanto percebi, não fizeram aquilo por princípio. Simplesmente há coisas que não devem ser públicas”, referiu.
“A equipa de Nixon pôs escutas. Trump foi escutado!”
Sobre o ‘impeachment’ nos EUA, Putin comentou ainda: “Recordam sempre Nixon. A equipa de Nixon pôs escutas, estava a escutar os seus rivais. Mas esta é uma situação completamente diferente. Trump foi escutado! E com base no que sabemos da chamada, não houve ali nada de errado. Trump pediu ao seu homólogo para investigar possíveis esquemas de corrupção de administrações anteriores.”
O caso de Richard Nixon é frequentemente citado quando se fala de ‘impeachment’ nos EUA para se recordar que o Presidente renunciou, ele próprio, ao cargo em 1974, antes de o processo poder avançar. Assim, o ‘impeachment’ propriamente dito só aconteceu duas vezes na história americana, com Andrew Johnson, no século XIX, e com Bill Clinton, no final dos anos 1990. Em nenhum dos dois casos, o processo resultou na deposição do Presidente.
A polémica conversa telefónica entre Trump e Zelensky desencadeou uma queixa formal de um denunciante que, por sua vez, conduziu à abertura do processo de destituição presidencial. Uma transcrição da conversa, publicada na semana passada, indica que o Presidente americano instou o homólogo ucraniano a investigar alegações contra o ex-vice-Presidente Joe Biden, candidato à nomeação democrata para as eleições do próximo ano, e o seu filho Hunter Biden.