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Johnson diz que “cumprir o Brexit” é a melhor maneira de homenagear deputada assassinada

A trabalhista Jo Cox, que fez campanha pela permanência do Reino Unido na UE, foi assassinada por um extremista dias antes do referendo em 2016. Na reabertura antecipada da Câmara dos Comuns, por deliberação judicial, o primeiro-ministro esteve sob fogo pelo uso de palavras como “rendição” e “traição”. Mas também pediu contas à oposição

House of Commons/PA Images/Getty Images

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse esta quarta-feira que a melhor maneira de honrar a memória de Jo Cox e unir o país é “cumprir o Brexit”. A deputada trabalhista, que fez campanha pela permanência do Reino Unido na União Europeia (UE), foi assassinada por um extremista dias antes do referendo sobre o Brexit em 2016.

Na primeira sessão da Câmara dos Comuns, após o Supremo Tribunal do Reino Unido ter deliberado na véspera que a suspensão do Parlamento fora “ilegal”, Johnson foi criticado várias vezes pelo uso de palavras como “rendição” e “traição”. O primeiro-ministro referia-se ao projeto de lei que visa bloquear uma saída desordenada a 31 de outubro se até 19 de outubro ele não conseguir um novo acordo para o Brexit.

Apontando para uma placa de homenagem a Cox nos Comuns, a trabalhista Paula Sheriff sublinhou: “Não devemos recorrer a linguagem ofensiva, perigosa e inflamatória para nos referirmos a legislação de que não gostamos.” “Estamos aqui sob o escudo da nossa amiga falecida com muitos de nós sujeitos a ameaças de morte e abusos todos os dias”, acrescentou.

Viúvo de Cox “enojado” ao ver “nome de Jo usado desta forma”

Em resposta, Johnson disse que nunca tinha ouvido “tanta treta” em toda a sua vida. Tracy Brabin, que foi eleita após o assassínio de Cox, também pediu ao primeiro-ministro que moderasse a linguagem para que todos pudessem sentir-se “seguros” no seu trabalho. Foi então que Johnson sugeriu qual era, no seu entender, a melhor forma de homenagear Cox.

O viúvo Brendan Cox escreveu no Twitter que se sentiu “enojado” ao ver “o nome de Jo usado desta forma”. “A melhor maneira de homenagear a Jo é todos nós, independentemente dos nossos pontos de vista, defendermos aquilo em que acreditamos, apaixonadamente e com determinação”, corrigiu, sublinhando, em seguida: “Mas nunca demonizando o outro lado e agarrando-nos sempre ao que temos em comum.”

O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, referiu que a linguagem do primeiro-ministro “era indistinguível da extrema-direita”. Já a líder dos Liberais Democratas, Jo Swinson, classificou os comentários de Johnson como “uma desgraça”, dizendo que horas antes tinha denunciado à polícia uma ameaça contra o seu filho.

Johnson desafia oposição a enfrentar “Dia do Juízo Final” com eleitores

Ainda no decurso do atribulado debate, os partidos da oposição reiteraram que não concordariam com a realização de novas eleições antes de terem a garantia de que a ameaça de um Brexit sem acordo a 31 de outubro estava afastada. Contudo, questionado sobre se pediria à UE um prolongamento do prazo de saída no caso de não conseguir um acordo, o primeiro-ministro disse que não.

Johnson, que teve de voltar mais cedo da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, insistiu que o Supremo Tribunal agiu “erradamente ao pronunciar-se sobre uma questão política num momento de grande controvérsia nacional”. O chefe de Governo também desafiou a oposição a apresentar uma moção de censura ou a apoiar novas eleições e enfrentar “o Dia do Juízo Final” com os eleitores.