A Amnistia Internacional denunciou esta quinta-feira a existência de “prisões arbitrárias, espancamentos brutais e tortura nas detenções policiais” durante as manifestações antigovernamentais dos últimos três meses em Hong Kong. A organização não-governamental (ONG) alerta ainda para o que apelida de “padrão alarmante” de violência.
“Os agentes da polícia exercem violência antes e durante as prisões, repetidas vezes”, o que é contrário à legislação internacional dos direitos humanos, relata o diretor da Amnistia para o leste asiático, Nicholas Bequelin. As conclusões basearam-se em entrevistas a 48 pessoas, incluindo advogados e 21 manifestantes presos.
Em 18 dos 21 casos analisados, os manifestantes revelaram que foram internados no hospital após a prisão ou detenção, com lesões que iam desde ferimentos na cabeça a braços fraturados. Em casos excecionais, alguns manifestantes detidos relataram ter sido espancados por agentes da polícia, tendo sofrido “maus tratos ao nível da tortura”.
Deputada pede inquérito internacional à ONU
“As provas deixam pouco espaço para dúvidas: numa aparente sede de retaliação, as forças de segurança de Hong Kong adotaram um padrão perturbador de táticas imprudentes e ilegais contra as pessoas durante os protestos”, incluindo “prisões arbitrárias e violência retaliatória”, acrescenta o responsável.
No início da semana, uma deputada do Parlamento de Hong Kong pediu às Nações Unidas a realização de um inquérito internacional para averiguar a repressão policial dos manifestantes pró-democracia. Ao usar da palavra durante a reunião do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Tanya Chan, membro do Conselho Legislativo, afirmou que a antiga colónia britânica “está a viver uma crise”.
Chan, fundadora do Partido Cívico, foi condenada este ano a oito meses de prisão com pena suspensa pelo papel desempenhado na campanha de desobediência civil “Occupy Central” de 2013 e no “Movimento dos Guarda-Chuvas”, que paralisou Hong Kong no ano seguinte.
Contestação já dura há mais de 100 dias
No início do mês, a chefe do Executivo, Carrie Lam, retirou formalmente as emendas à polémica lei de extradição que esteve na base da contestação social dos últimos três meses. Mas os manifestantes exigem que o Governo responda a quatro outras reivindicações: que as ações de protesto deixem de ser identificadas como motins, a libertação dos manifestantes detidos, um inquérito independente à violência policial e a demissão de Lam e consequente eleição por sufrágio universal para o seu cargo e para o Conselho Legislativo.
Esta segunda-feira, Hong Kong assinalou 100 dias da mais grave crise política depois de ter sido integrada na China em 1997. Tal como acontece com Macau, foi acordado com Hong Kong um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, ficando o Governo central chinês responsável pelas relações externas e pela defesa.