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Brexit. Corbyn define pilares de “acordo sensato” e evita escolher lados num segundo referendo

“Prometo cumprir o que o povo decidir enquanto primeiro-ministro trabalhista”, escreve o líder do Labour num artigo para o “Guardian”. “O Labour é o único partido determinado a unir as pessoas. Só uma votação no Labour devolverá uma votação pública sobre o Brexit. Só um Governo do Labour colocará o poder novamente nas mãos das pessoas”, acrescenta

Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista e da oposição no Reino Unido
Toby Melville / Reuters

O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, estabeleceu os pilares do que considera um “acordo sensato” para o Brexit: um compromisso “com base nos termos que há muito defendemos, incluindo uma nova união aduaneira com a União Europeia (UE)”, “uma estreita relação de mercado único”, “garantias dos direitos dos trabalhadores e proteções ambientais”. “Em seguida”, escreve o líder do Labour num artigo publicado esta terça-feira no jornal “The Guardian”, “submeteremos isto a votação pública”.

Esta é a base do que Corbyn descreve como uma “opção credível de saída”, que seria disponibilizada num segundo referendo ao lado da opção de continuar no bloco comunitário (‘Remain’). “Prometo cumprir o que o povo decidir enquanto primeiro-ministro trabalhista”, acrescenta, acusando o atual chefe de Governo, Boris Johnson, de “querer sair sem acordo”. “Isto é algo a que se opõem as empresas, a indústria, os sindicatos e a maioria do público – e até mesmo Michael Gove [o número dois de Johnson], que disse: ‘Não votámos para sair sem um acordo’”, recorda.

“E agora os Liberais Democratas querem que os deputados cancelem o resultado do referendo [de 2016] revogando o artigo 50 num esquema parlamentar. É simplesmente antidemocrático anular a decisão de uma maioria dos eleitores sem devolver a palavra ao povo”, critica Corbyn. E acrescenta: “O Labour é o único partido determinado a unir as pessoas. Só uma votação no Labour devolverá uma votação pública sobre o Brexit. Só um Governo do Labour colocará o poder novamente nas mãos das pessoas. Paremos um Brexit sem acordo e deixemos o povo decidir.”

No texto, o líder trabalhista reitera o compromisso de apoiar novas eleições assim que a ameaça de Johnson de uma saída sem acordo for travada através de uma extensão do artigo 50, o artigo que define os passos que um Estado-membro deve dar para sair da UE.

Labour pela permanência? Há quem lute por isso

As posições de Corbyn são assumidas dias antes de uma conferência do Labour, durante a qual alguns militantes tentarão promover uma mudança da posição do partido no sentido da permanência na UE. No encontro anual em Brighton, os dirigentes tentarão forçar uma votação sobre o assunto, com vista a conseguir uma promessa de que o partido fará campanha pelo ‘Remain’ no manifesto do próximo ato eleitoral. Alguns ministros-sombra do Labour já se mostraram dispostos a fazer campanha nesse sentido, independentemente de qualquer acordo para o Brexit negociado pelo partido.

O jornal “Guardian” escreve que as declarações de Corbyn constituem o sinal mais forte de que o líder trabalhista resistirá aos apelos para escolher um dos lados e optará por estar fora da campanha num segundo referendo sobre um Brexit negociado pelo Labour. Desse modo, Corbyn assumiria o papel de árbitro neutro que se comprometia a concretizar o que quer que o público decidisse. Isto ajudaria a evitar a situação em que o conservador David Cameron se encontrou como primeiro-ministro em 2016, quando abandonou o número 10 de Downing Street após ter acabado no lado derrotado, refere o diário.

Os esforços para mudar a posição do Labour relativamente ao Brexit começam já este sábado em Brighton, onde delegados discutirão 80 moções favoráveis à campanha pela permanência num segundo referendo.