Internacional

Hong Kong. China indignada com encontro entre líder destacado dos protestos e chefe da diplomacia alemã

O Governo chinês convocou o embaixador alemão em Pequim. “Expressámos a nossa grande deceção e protestámos contra o facto de tal incidente ter ocorrido”, disse o embaixador da China em Berlim. Joshua Wong, o ativista em questão, afirmou que não é um “separatista” e que os manifestantes “apenas esperam eleger” o seu próprio Governo

Joshua Wong fotografado ao lado do MNE alemão, Heiko Maas
Michael Kappeler/picture alliance/Getty Images

Joshua Wong, um dos líderes dos protestos em Hong Kong, disse esta quarta-feira que não é um “separatista” e que os manifestantes “apenas esperam eleger” o seu próprio Governo. O jovem, que lidera o grupo de ativistas Demosisto, reagiu assim à ira de Pequim após o encontro que manteve com o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas.

Wong referiu-se a Hong Kong, uma região administrativa especial da China, como “a nova Berlim”, três décadas depois da queda do muro na capital alemã.

Na segunda-feira, o ativista publicou uma fotografia no Twitter em que surge ao lado do chefe da diplomacia da Alemanha, escrevendo que falou com Maas sobre a luta por “eleições livres e democracia em Hong Kong” e revelando que ia encontrar-se com “membros do Bundestag [o Parlamento alemão] nos próximos dias”.

Encontro “terá impacto muito negativo nas relações bilaterais”

O Governo central chinês não gostou e chamou o embaixador alemão em Pequim. “Expressámos a nossa grande deceção e protestámos muito firmemente contra o facto de tal incidente ter ocorrido”, explicou esta terça-feira o embaixador da China em Berlim, Ken Wu. O diplomata alertou que aquele encontro “terá um impacto muito negativo nas relações bilaterais”, sem, no entanto, fornecer mais detalhes.

A chanceler Angela Merkel, que visitou a China na semana passada, esclareceu esta quarta-feira que a Alemanha considera “indispensável” o respeito pelos direitos humanos, dizendo-se favorável ao princípio “um país, dois sistemas”, que vigora em Hong Kong desde que a antiga colónia britânica foi devolvida à China em 1997.

Wong encontrou-se com vários dirigentes políticos alemães, mas não com Merkel, e parte esta sexta-feira para os EUA. Ele é um dos mais destacados rostos dos protestos que desde junho enchem as ruas da região administrativa especial. Conheça os outros neste link.

Polícia proíbe manifestação de domingo em Hong Kong

Entretanto, a polícia de Hong Kong proibiu a manifestação convocada para este domingo pela Frente Cívica de Direitos Humanos. A marcha foi agendada após o anúncio pela chefe do Executivo, Carrie Lam, da retirada formal das emendas à polémica lei da extradição que esteve na base da contestação social.

Os manifestantes exigem que o Governo responda a quatro outras reivindicações: que as ações de protesto não sejam identificadas como motins, a libertação dos manifestantes detidos, um inquérito independente à violência policial e a demissão de Lam e consequente eleição por sufrágio universal para o seu cargo e para o Conselho Legislativo, o Parlamento de Hong Kong.

Na carta de “objeção” da polícia, enviada aos organizadores da marcha, lê-se que durante os protestos dos últimos meses “alguns manifestantes não apenas cometeram atos de violência, incêndios criminosos e bloqueios de estradas, como também usaram bombas de gasolina e todos os tipos de armas para destruir bens públicos em larga escala”. As autoridades referiram ainda que os locais onde a manifestação iria acontecer são “muito próximos de prédios de alto risco”, entre os quais a estação de comboios de alta velocidade ou o quartel-general da polícia.

Tal como acontece com Macau, foi acordado com Hong Kong um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, ficando o Governo central chinês responsável pelas relações externas e pela defesa.