Era suposto ser só uma formalidade. Terminados os trabalhos da Câmara dos Comuns, Sarah Clarke, funcionária do Parlamento que é a primeira mulher a ocupar o cargo de Black Rod (Dama Ostiária do Bastão Negro, no título completo em português), entrou para chamar os deputados para a cerimónia de suspensão, que se realiza na Câmara dos Lordes.
Vários deputados da oposição protestaram de imediato, exibindo cartazes em que se diziam “silenciados”. O speaker dos Comuns, John Bercow, explicou que apesar de todo o respeito que a atual Black Rod lhe merece, e de tencionar segui-la até à câmara alta, “esta não é uma suspensão padrão nem normal”.
Trata-se, a seu ver, de uma medida política do Governo para evitar o escrutínio parlamentar num momento crucial para o processo do Brexit. “Escândalo constitucional”, considerou Bercow quando a decisão foi anunciada, no final de agosto.
Quando os deputados conservadores começaram a sair da Câmara dos Comuns, seguindo o speaker e a Black Rod — que tem outras funções cerimoniais e de manutenção da ordem —, vários parlamentares de outros partidos gritaram “Tenham vergonha!” e “Antidemocrático!”. Muitos ficaram nos seus lugares, protestando e cantando. Da bancada do Governo vieram críticas a Bercow, a quem um dos deputados atirou: “Faça o seu trabalho, pelo qual é muito bem pago!”.
A cerimónia consiste, basicamente, na leitura perante membros das duas câmaras de um discurso em nome da rainha Isabel II (escrito pelo Governo) que enumera todas as leis aprovadas na sessão legislativa que se encerra.
De volta à Câmara dos Comuns, após esse procedimento, Bercow foi aplaudido pela oposição, face a uma bancada conservadora quase vazia (estavam nove dos 288 deputados do partido de Boris Johnson). “Sinto-me mais em casa aqui”, admitiu o speaker, antes de sugerir uma troca de apertos de mão, que nalguns casos foram abraços apertados. Os trabalhos serão retomados a 14 de outubro e ele lá estará, mas só até ao fim desse mês.