“Dividido entre a lealdade à família e o interesse nacional”, Jo Johnson vai deixar a Câmara dos Comuns. O irmão mais novo do primeiro-ministro britânico fez esse anúncio hoje na rede social Twitter.
Dizendo-se honrado por representar o círculo de Orpington há nove anos, o conservador recorda que fez parte de três governos (com David Cameron, Theresa May e o irmão Boris) e defende que “é tempo de outros assumirem o [seu] lugar”.
Um porta-voz do líder do Executivo afirmou que este estava grato a Jo pela sua dedicação. “Foi um ministro brilhante e talentoso e um deputado fantástico. O primeiro-ministro, como político e como irmão, compreende que não terá sido um assunto fácil para Jo.”
Antigo jornalista, como o líder do Govenro, Jo tem 47 anos e é o mais novo dos quatro filhos de Stanley e Charlotte Johnson. Formado em História, foi eleito deputado pela primeira vez em 2010.
Colaborou com David Cameron como diretor de política do nº10 de Downing Street e como secretário de Estado Adjunto. Com May foi ministro dos Transportes e secretário de Estado para Londres. Boris Johnson confiou-lhe a pasta do Ensino Superior.
O tweet do demissionário não deixa 100% claro se sairá do Executivo ou se fica até ao fim do mandato parlamentar. Ao contrário do que acontece com muitos políticos, não é para estar mais tempo com a família (ou pelo menos com o irmão), como não tardou a brincar uma eurodeputada trabalhista.
A referência do deputado não, é contudo, à mulher e aos dois filhos, mas à lealdade para com o irmão e chefe. A política de saída da UE a qualquer custo, com ou sem acordo, vai contra o que Jo Johnson defendeu (abandonou este ano o Executivo de May para lutar por novo referendo ao Brexit). Ou seja, a ação do membro mais poderoso da sua família, o irmão Boris, vai contra o que Jo acredita ser o interesse nacional.
O diretor do think tank Chatham House, Robin Niblett, citado pelo diário “The Guardian”, recordava hoje que Jo Johnson “falou com eloquência num passado recente sobre a necessidade de manter uma relação próxima e eficaz, a longo prazo, com a UE”. Para o jornalista Robert Peston, da ITV, a expulsão de 21 deputados conservadores que votaram, terça-feira, com a oposição para travar uma saída sem acordo terá sido a gota de água para Jo Johnson, politicamente mais próximo destes do que de Boris.
Diversidade familiar
As divisões na família Johnson são conhecidas. Rachel Johnson, irmã de Boris e Jo, trocou o Partido Conservador pelos Liberais Democratas em 2017, por ter ideias europeístas. Em 2019, passou para o novo partido Change UK, pelo qual foi candidata a eurodeputada, sem êxito, em maio.
Divergências familiares de monta surgiram também, do outro lado do espectro político, entre os Miliband. Quando o antigo primeiro-ministro Gordon Brown deixou a liderança trabalhista, em 2010, David Miliband (então ministro dos Negócios Estrangeiros) era favorito, mas a vitória na disputa interna acabou por sorrir ao irmão Ed Miliband, cuja inesperada candidatura foi bem-sucedida graças ao apoio dos sindicatos afiliados ao partido.
Em 2013, referindo-se a esse episódio, disse Boris Johnson: “Não fazemos as coisas assim, isso é uma coisa de esquerda. Só um socialista poderia olhar para os laços de família como algo tão banal que se permitisse atacar o seu irmão”.
Nas últimas semanas vários deputados conservadores disseram-se indisponíveis para uma recandidatura, entre eles os veteranos Kenneth Clarke, Nicholas Soames ou Justine Greening, todos três expulsos do partido esta semana. Esta quinta-feira, minutos depois de Jo Johnson, foi a vez de Caroline Spelman dizer o mesmo. Ontem votou contra o Governo, a favor da lei que visa impedir o Brexit sem acordo.