Serve para combater a dor, aquela muito, muito forte. Anestesia. E mata, porque passou dos hospitais para as ruas dos Estados Unidos. E é a droga mais fatal de sempre. “O Fentanyl era originalmente um medicamento, algo usado numa operação de peito aberto ou em cuidados em situações terminais. É um opioide 50 vezes mais forte do que heroína, 100 vezes mais forte do que morfina”, conta Ben Westhoff, jornalista norte-americano que esta quarta-feira lançou o livro “Fentanyl, Inc.”, sobre a indústria de uma droga cujo número de vítimas mortais não pára de aumentar.
É possível comprar Fentanyl no mercado negro online a preços relativamente acessíveis e é precisamente o baixo custo, sublinha o autor em entrevista à NPR, que faz com que seja também tão popular entre os consumidores de droga. O fentanyl, assim como outras drogas sintéticas, é produzido na China e enviado depois para os EUA ou para cartéis de droga no México para ser distribuído. Quando chega à ‘dark web’ é, muitas vezes, misturado com outras drogas, como a heroína, a cocaína ou, até, com medicamentos que precisam de receita médica.
“Basicamente é tão barato produzir-la e é tão potente que os traficantes de droga perceberam que era uma forma de aumentar os lucros”, sublinha Westhoff. “Apenas dois miligramas de fentanyl são suficientes para matar, o mais pequeno erro de cálculo pode provocar overdoses e a morte. Se o fentanyl chegar aos medicamentos o problema pode ser ainda pior”
À semalhança da heroína, o fentanyl é “extremamente viciante”. A preocupação, explicou o autor, é que o opióide está a ser misturado com quase todas as outras drogas. “Por isto, quase todas as outras drogas estão a ficar ainda mais perigosas”.
Da China até aos EUA o envio é “surpreendentemente fácil”. Como? Por correio. “As quantidades necessárias são tão pequenas que centenas de doses cabem num envelope… Muitas vezes vem escondida dentro de outros produtos”, refere Westhoff.
Em junho, as Nações Unidas alertaram para o uso excessivo de drogas fora de contexto médico, chegando a considerar que se está a tornar uma séria ameaça à saúde pública. Um estudo publicado pelo Departamento das Nações Unidas para a Droga e Crime dá conta dos “níveis recorde” de consumo e produção de opiáceos.
Além da produção de heroína vendida nas ruas, os opiáceos que estão a ser produzidos sob rótulo farmacêutico, mas ilegalmente, já são responsáveis por 76% de todas as mortes relacionadas com o consumo de opiáceos no mundo todo. O infame opiáceo sintético “fentanyl” tem desesperado as autoridades norte-americanas e provocado overdoses “supersónicas” em vários consumidores de heroína que não sabem que a sua “dose” pode estar cortada por este químico muito mais forte.