Internacional

Bolsonaro quer povo na rua vestido de verde e amarelo no sábado: “Para mostrar que a Amazónia é nossa”. E se acontecer como em 1992?

Fernando Collor de Mello, que mais tarde seria vítima de um impeachment, pediu ao povo brasileiro para sair à rua com as mesmas cores em 1992. O tiro saiu ao lado
EVARISTO SA/AFP/Getty Images

Jair Bolsonaro quer que o povo brasileiro dê um murro na mesa. Simbólico. O Presidente do Brasil, que será submetido a nova cirurgia ainda na sequência da facada que sofreu durante a campanha eleitoral, quer ver os brasileiros a saírem à rua de verde e amarelo, no próximo sábado, conta o jornal “O Globo”.

E tudo pela soberania nacional, do país e da Amazónia, que vai sofrendo há semanas com milhares de incêndios e queimadas, emocionando o mundo.

“A gente apela para quem está a ouvir-nos”, desafiou Bolsonaro, “para quem está em Brasília, quem porventura estiver no Rio de Janeiro, em São Paulo, que compareça de verde a amarelo. Eu lembro que, lá atrás, um Presidente falou isso e deu-se mal. Mas não é o nosso caso. O nosso caso é o Brasil. Não é para me defender ou defender quem quer que seja. É para mostrar ao mundo que aqui é o Brasil. Que a Amazónia é nossa.”

Fernando Collor de Mello
Paulo Fridman

O episódio que Bolsonaro apontou, e que a imprensa brasileira tem relatado nestas horas, remonta a 1992, quando o então Presidente, Fernando Collor de Mello (1990-1992), convocou a população brasileira a exibir as mesmas cores, para demonstrar apoio ao governante, pois estava a ser alvo de diversas acusações que lhe valeriam o impeachment por suspeitas de corrupção. Na altura, conta este artigo da “Folha de São Paulo” de 2009, o tiro saiu ao lado: uma grande fatia do povo brasileiro, embalado por várias publicações, artigos de opinião e editoriais, preferiu vestir preto e escuro. O jornal “A Folha da Tarde”, por exemplo, publicou um editorial com o título “Preto do luto e da vergonha”, ao que juntou uma capa totalmente preta, com letras brancas.

Bolsonaro acredita que não será assim.

O Presidente brasileiro voltou a falar de Emmanuel Macron, o homólogo francês, com quem trocou algumas palavras azedas e acusações, inclusivamente de teor pessoal, pois este terá sugerido a internacionalização da Amazónia.

“Um presidente lá do outro lado do Atlântico resolveu falar uma coisa que tocou a todos nós, falar em soberania relativa [da Amazónia], mexeu connosco. Connosco, brasileiros, e com os demais países da região amazónica. Nós queremos, sim, tirar uma posição disso. Isso serviu para acordar muita gente no Brasil que nem sabia o que era a Amazónia”, pode ler-se no jornal “O Globo”.