Há dois mistérios à volta da morte de Jeffrey Epstein, o milionário acusado de abuso e tráfico de menores que se terá suicidado numa prisão de Nova Iorque na manhã de sábado. Um, que até foi alimentado por Donald Trump (via retweet), sugere que Epstein saberia demasiados segredos e que não terá sido ele a acabar com a sua vida; o outro diz respeito ao dinheiro que movimentou ao longo da sua vida, com particular atenção à relação com Leslie Wexner, o presidente executivo da empresa que detém, entre outros negócios, a Victoria’s Secret.
No sábado, o comediante (conservador) Terrance Williams publicou no Twitter um vídeo em que relacionava a morte de Epstein com a família Clinton, conta este artigo da CNN. Bill Clinton, um amigo de Epstein, foi Presidente dos Estados Unidos entre 1993 e 2001. Hillary Clinton foi a concorrente democrata na corrida à Casa Branca, em 2016, para suceder a Barack Obama, mas que acabou por ser derrotada por Donald Trump.
O departamento responsável pelas prisões norte-americanas revelam que se trata de um “aparente suicídio” por parte de Jeffrey Epstein, de 66 anos, detido desde julho numa prisão de Nova Iorque. Autoridades de três jurisdições diferentes abriram uma investigação àquela morte, explica este artigo do “The Guardian”. Epstein foi encontrado sem vida na sua cela do Metropolitan Correctional Center, em Manhattan, às 6h30 da manhã no sábado. A autópsia levada a cabo pelas entidades competentes, que ainda carece de mais informações, foi supervisionada por um médico indicado pelos representantes de Epstein. Uma fonte do “New York Times” (NYT), próxima de Michael Baden, o responsável pela autópsia, revelou que aquele médico estará “confiante” de que Epstein se terá enforcado na cela.
O magnata norte-americano esteve inserido num programa para evitar o suicídio, no mês passado, durante uma semana. Por que razão deixou de estar? Esta é uma das questões que as autoridades querem ver respondidas. De acordo com o “NYT”, dois guardas terão falhado as visitas de meia em meia hora à cela de Epstein. Um sindicato disse àquele jornal norte-americano que o estabelecimento prisional tem falta de pessoal e que ambos os guardas estavam a cumprir horas extraordinárias, um deles há vários dias.
A morte de Epstein aconteceu 24 horas depois de serem conhecidos novos desenvolvimentos sobre os seus alegados crimes, nomeadamente sobre o recrutamento de menores e a maneira como o empresário preparava as meninas para as violações e abusos sexuais.
O rasto do dinheiro
O outro enigma prende-se com os milhões que circularam e circulavam por dezenas de contas de Jeffrey Epstein, assim como por empresas-fantasma e fundações de caridade num vaivém milionário com os seus amigos muito poderosos, pode ler-se neste artigo do “NYT”.
“Para onde ia o dinheiro? Para que foi usado? Quem é que estava de facto a enviar e a receber o dinheiro?”, pergunta aquele periódico norte-americano, que avança que a investigação às entranhas da sua riqueza vai prosseguir. Afinal, de onde veio aquele dinheiro todo?
O jornal diz ainda que advogados, banqueiros e contabilistas estarão a tentar decifrar o mistério, informação essa que, com a morte do magnata, promete entorpecer. O dinheiro que circulou entre offshores eram, em alguns casos, anormais, de acordo com depoimentos de pessoas ouvidas em investigações e documentos oficiais a que o “New York Times” teve acesso. A resolução deste problema poderá contribuir para destapar o tal esquema de tráfico de menores e quem é que esteve envolvido e abusou das menores e mulheres.
Um dos casos dado pelo “NYT” aconteceu no início do século XXI: 78 milhões de euros apareceram na conta bancária de uma empresa registada nas Ilhas Virgens. Depois, outra empresa ligada ao magnata terá transferido dezenas de milhões para Leslie H. Wexner, um bilionário e presidente executivo da L Brands, que detém, entre outros negócios, a Victoria’s Secret. Wexner, revelou, alguns anos depois, que cortou relações com Epstein. Esta relação é, aliás, talvez o ponto mais intrigante nesta história para as autoridades, já que Epstein teve acesso às contas de Wexner. Foi detectada também uma troca de muitos milhões entre as empresas de caridade de ambos.
Os bancos JP Morgan e o Deutsche Bank, por exemplo, tiveram uma relação estreita com Epstein e estão, há poucas semanas, a investigar os registos e o destino do dinheiro nas contas do norte-americano.
Apesar da morte de Jeffrey Epstein, as investigações às empresas a que esteve ligado continuarão sob escrutínio. E talvez as respostas a outros enigmas estejam aí.