Internacional

Hong Kong. Chefe do Executivo recusa demitir-se e avisa que confrontos estão “a empurrar a cidade para uma situação muito perigosa”

“A grande maioria dos residentes enfrenta ansiedade em relação ao seu quotidiano. Alguns não sabem se ainda podem usar certos transportes públicos, enquanto outros são bloqueados a caminho do trabalho”, disse Carrie Lam. A governante defendeu a conduta da polícia que tem sido criticada pela repressão dos manifestantes que exigem mais democracia

ANTHONY WALLACE/AFP/Getty Images

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, deu esta segunda-feira uma rara conferência de imprensa em que recusou demitir-se e sublinhou que ela e a sua equipa estão concentradas em reestabelecer a lei e a ordem no território. “Os recentes protestos e marchas tiveram uma escalada de violência e esses atos preocupantes foram além [dos protestos contra a lei de extradição]”, referiu.

Em causa está ainda a proposta de lei, entretanto abandonada, que previa a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições, incluindo a China continental, onde os críticos alegam não haver garantias de um julgamento justo.

“Tal violência está a empurrar a nossa cidade, a cidade que todos amamos e muitos de nós ajudámos a construir, para o limiar de uma situação muito perigosa. A grande maioria dos residentes enfrenta ansiedade em relação ao seu quotidiano. Alguns não sabem se ainda podem usar certos transportes públicos, enquanto outros são bloqueados a caminho do trabalho”, disse.

Protestos já levaram a invasão e vandalização do Parlamento

No primeiro dia de julho, por ocasião do 22.º aniversário da transferência da antiga colónia britânica para a China, centenas de manifestantes forçaram a entrada no Conselho Legislativo (Parlamento) e provocaram vários danos materiais, incluindo computadores partidos e paredes cobertas de tinta com mensagens contra a polícia, o Governo e o projeto de lei.

Uma semana depois, Lam afirmou estar “de coração partido” com os confrontos provocados pela proposta de lei, que descreveu como um “fracasso total”. No entanto, à semelhança do que fizera no mês anterior, quando se limitou a suspender o avanço legislativo da proposta, a chefe do Executivo voltou a não retirar completamente o projeto de lei.

“A minha demissão ou a dos meus colegas não ajudaria à situação”

“O Governo já anunciou que a proposta de extradição está morta mas os manifestantes continuaram a reunir-se e a atacar. Penso que, neste momento, a minha demissão ou a dos meus colegas não ajudaria à situação”, sublinhou esta segunda-feira.

A chefe do Executivo também defendeu a conduta da polícia, que tem sido criticada pela mão pesada sobre os manifestantes nas últimas semanas. “A força policial está a salvaguardar a lei e a ordem de Hong Kong e a garantir a contínua segurança da cidade”, concluiu, citada pelo Channel News Asia.

Anthony Kwan/Getty Images

Distúrbios na hora de ponta, mais de 200 voos cancelados e desobediência civil

Esta segunda-feira, antes da comunicação de Lam, ativistas invadiram as principais estações do metro de Hong Kong durante a hora de ponta da manhã, impedindo a partida de comboios e provocando longas filas e ocasionais discussões entre passageiros e manifestantes.

Mais de 200 voos foram cancelados no aeroporto da cidade, um dos mais movimentados do mundo.

No sábado, os organizadores das manifestações anunciaram que 14 mil pessoas de mais de 20 sectores tinham aderido aos protestos. Funcionários públicos, assistentes sociais, comissários de bordo, pilotos e motoristas de autocarros, entre outros, garantiram que fariam greve ou telefonariam a dizer que estavam doentes esta segunda-feira.

Modelo “um país, dois sistemas”

Os protestos nesta região administrativa especial da China foram desencadeados pela oposição à proposta de extradição mas rapidamente evoluíram para um movimento mais amplo que pede reformas democráticas. A 1 de julho de 1997, Hong Kong voltou à China sob o modelo “um país, dois sistemas”, que prevê um conjunto de liberdades, incluindo a liberdade de protesto e um sistema judicial independente, que não são gozadas na China continental.

Advogados e grupos de defesa dos direitos humanos alegam que o sistema de justiça na China é marcado pela tortura, confissões forçadas e detenções arbitrárias. Pequim nega interferências mas, para muitos cidadãos de Hong Kong, o projeto de lei é o mais recente passo em direção ao controlo continental.

A polícia de Hong Kong anunciou ainda que deteve 420 pessoas desde que os protestos começaram, há nove semanas, incluindo 82 durante as manifestações de hoje.

Notícia atualizada às 12h25