Por estes dias pouco há ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México que não seja um símbolo de separação (re)forçada entre os dois países: mais agentes, mais arame farpado, mais betão, mais postos para as autoridades fronteiriças, gás lacrimogéneo lançado sobre as ondas de migrantes que tentam entrar nos Estados Unidos e a constante separação das crianças dos seus progenitores já depois de terem entrado em solo norte-americano. Mas no passado sábado, dia 27, umas enormes traves de metal rosa-choque entraram por esse clima de guerra adentro e transformaram-se em baloiços para que crianças e adultos de um e de outro lado da fronteira pudessem brincar e interagir.
Apesar de a imagem dos baloiços ter corrido todo o mundo à velocidade das partilhas e repartilhas nas redes sociais, os enormes “sobe e desce” transfronteiriços só lá ficaram um dia. Ao Expresso, a Agência de Patrulha de Fronteiras dos Estados Unidos disse que “já não existe qualquer brinquedo na fronteira entre os Estados Unidos” e que o material “foi retirado sem incidentes pelas pessoas responsáveis pelo projeto”, não adiantando, porém, se a colocação do baloiço violava alguma lei. O responsável pela comunicação da agência para o New México disse apenas que como não tinha sido pedida previamente “a coordenação com as autoridades”, os baloiços tiveram de ser removidos.
O tempo que eles já estiveram foi suficiente para alimentar a esperança de uma resolução mais ou menos pacífica para um conflito que está há mais de dois anos em escalada. As “políticas do muro”, expressão utilizada por alguns analistas para se referirem a todo o conjunto de medidas para a imigração esposadas por Donald Trump. “Foi literalmente uma alavanca inserida nas relações Estados Unidos-México… adultos e crianças a brincarem juntos reconhecendo perfeitamente que o que se passa de um lado tem consequências diretas no outro”, disse à rádio pública norte-americana (NPR) Ronald Rael, cofundador do estúdio de arquitetura Rael San Fratello com Virginia San Fratello.
Há dez anos que os dois colegas estavam à espera do momento para instalar este baloiço, até porque a lei que autorizou a construção de 850 quilómetros de separação física entre os dois países foi aprovada em 2006, no tempo de George Bush. Mas em nenhum momento da história recente da imigração, consideram estes arquitetos, as relações foram tão hostis. “O muro, as tristes políticas que o sustentam, não separam apenas países mas também regiões, cidades, comunidades, famílias e, recentemente, crianças dos seus pais”, disse ainda Rael.
O estúdio de Rael tem outros projetos que ajudam a pensar nestas áreas como espaços comuns, que pertencem a ambos os países e a espécies de animais que também sofrem com a implementação de uma barreira física. Além do projeto agora realizado, ainda que por breves momentos, na fronteira, Rael e San Fratello têm listadas na página do estúdio intervenções artísticas que dão prioridade à interação entre as pessoas, como a instalação de uma banca para cozinhar burritos, com grelhas dos dois lados, ou uma ponte com diversas ramificações finas para permitir a passagem de animais mantendo os standards de segurança.