A congressista democrata Ilhan Omar classificou esta quinta-feira o Presidente dos EUA como “fascista”, enquanto Donald Trump se tentava distanciar do cântico “mandem-na de volta!” dirigido pelos seus apoiantes à congressista nascida na Somália. “Temos dito que este Presidente é racista e condenado as suas declarações racistas. Eu acredito que ele é fascista”, afirmou Omar.
Ao aterrar no Minnesota, a congressista foi recebida por uma multidão de apoiantes, conta a agência de notícias France-Presse (AFP). “O pesadelo [de Trump] é ver uma refugiada imigrante somali a ascender ao Congresso. Vamos continuar a ser um pesadelo para este Presidente porque as suas políticas são um pesadelo para nós”, disse, servindo-se de um megafone.
Os cânticos irromperam num comício em Greenville, na Carolina do Norte, na noite de quarta-feira, quando Trump atacou Omar e três outras congressistas democratas – Alexandria Ocasio-Cortez, Ayanna Pressley e Rashida Tlaib –, chamando-as “extremistas cheias de ódio”.
“Não fiquei feliz quando ouvi esse cântico”, diz Trump
No dia seguinte, Trump tentou explicar que havia uma “grande energia” no comício mas que ele não ficou satisfeito com a provocação. “Não fiquei feliz quando ouvi esse cântico. Não gostei que eles o tivessem feito e comecei rapidamente a falar”, justificou-se. Contudo, as imagens televisivas mostram que Trump deixou que o cântico continuasse durante mais de 10 segundos antes de retomar a palavra.
Aquele quarteto de democratas tem sido alvo de ataques racistas de Trump, depois de um tweet no domingo em que o Presidente sugeriu que as congressistas voltassem para os seus países de origem. Mas das quatro apenas Omar não nasceu nos Estados Unidos, tendo chegado ao país com oito anos como refugiada de guerra da Somália.
Os “tweets racistas do Presidente”
Os ataques de Trump foram motivados pelo testemunho das congressistas na Câmara dos Representantes em que estas falaram das condições desumanas que presenciaram durante visitas a instalações de detenção de migrantes no Texas. “É muito interessante ver congressistas democratas ‘progressistas’, que originalmente vieram de países cujos governos são uma completa e total catástrofe, os piores, os mais corruptos e ineptos do mundo... dizerem, de viva e maliciosa voz, ao povo dos Estados Unidos, a maior e mais poderosa nação na Terra, como o nosso Governo deve ser gerido. Porque é que não voltam para os lugares totalmente destruídos e infestados de crime de onde vieram? Depois regressam e mostram-nos como se faz”, escreveu então.
Os tweets do Presidente levaram a Câmara a aprovar uma resolução de condenação. “Todos os membros desta instituição, democratas e republicanos, devem unir-se a nós na condenação dos tweets racistas do Presidente. Fazer algo menos do que isso seria uma rejeição chocante dos nossos valores e uma abdicação vergonhosa do nosso juramento de posse para proteger o povo americano”, disse na terça-feira a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi.
“Um voto democrata é um voto pela ascensão do socialismo radical”
No comício de quarta-feira, Trump deixou claro que, ainda sem um candidato presidencial democrata para combater, planeia dirigir os seus ataques àquelas congressistas como parte da sua estratégia para a reeleição no próximo ano. “Um voto em qualquer democrata em 2020 é um voto pela ascensão do socialismo radical e pela destruição do sonho americano – na verdade, pela destruição do nosso país”, disse.
As reações democratas, republicanas e além-fronteiras
Alguns dos candidatos à nomeação democrata condenaram as declarações de Trump. “Estas congressistas – filhas de imigrantes, tal como muitos de nós – são um exemplo precisamente do que tornou a América grande”, disse o ex-vice-presidente Joe Biden, o candidato mais bem colocado no campo democrata.
“Trump está a alimentar as correntes mais desprezíveis e perturbadoras na nossa sociedade. É esse ódio e racismo que o alimenta. Temos de lutar juntos para derrotar o Presidente mais perigoso da história do nosso país”, declarou Bernie Sanders. Elizabeth Warren, outra candidata presidencial democrata, escreveu no Twitter que os comentários de Trump devem servir para convencer o seu partido a iniciar um processo de destituição no Congresso. Por sua vez, a senadora californiana Kamala Harris classificou a atuação do Presidente como “vil, cobarde, xenófoba e racista”.
Do lado dos republicanos, a reação foi mais moderada mas também se fez sentir. “Os cânticos no comício da última noite foram ofensivos e estou feliz que o Presidente os tenha repudiado”, disse o senador Mitt Romney. “Discordo profundamente da extrema-esquerda e tenho ficado enojado com o tom deles. Hoje acordei igualmente enojado – cânticos como ‘mandem-na de volta!’ são feios, errados e provocariam calafrios aos nossos pais fundadores. Esta fealdade tem de acabar ou pomos em risco a nossa grande união”, alertou o congressista do Illinois Adam Kinzinger.
Também o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, condenaram as declarações de Trump, referindo-se a elas como “ofensivas” e “totalmente inaceitáveis”, respetivamente. Nenhum dos dois referiu o nome do Presidente norte-americano, nota a AFP.