Internacional

Líbia. Ataque aéreo a centro de migrantes faz pelo menos 40 mortos

Trata-se do ataque mais sangrento desde que o general renegado Khalifa Haftar lançou uma ofensiva para tomar Trípoli há três meses. O Governo central responsabiliza Haftar, enquanto o autoproclamado Exército Nacional da Líbia acusa as forças governamentais de terem visado o centro após um ataque preciso das forças de Haftar a um acampamento militar

MAHMUD TURKIA/AFP/Getty Images

Um ataque aéreo atingiu esta terça-feira um centro de detenção de migrantes em Tajura, próximo da capital líbia de Trípoli, provocando pelo menos 40 mortos e 80 feridos. A informação foi revelada por Malek Mersek, porta-voz dos serviços médicos estatais de emergência. O centro de detenção fica localizado junto a um acampamento militar.

Trata-se do número mais elevado de vítimas num ataque aéreo ou bombardeamento desde que, no início de abril, o autoproclamado Exército Nacional da Líbia (ENL), do general renegado Khalifa Haftar, lançou uma ofensiva para tomar Trípoli.

Osama Ali, um porta-voz dos serviços de emergência, disse à agência France-Presse que o balanço é ainda provisório, podendo o ataque ter causado mais vítimas mortais.

Governo responsabiliza “criminoso de guerra Khalifa Haftar”

Em comunicado, o Governo de Fayez al-Sarraj, reconhecido internacionalmente, anunciou que dezenas de pessoas foram mortas e feridas num ataque aéreo atribuído ao “criminoso de guerra Khalifa Haftar”. Um oficial do ENL negou que as forças de Haftar tenham atingido o centro de detenção, dizendo que milícias aliadas do Governo central o bombardearam na sequência de um ataque preciso do ENL a um acampamento militar.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) na Líbia já condenou o ataque ao centro.

Na véspera, o ENL prevenira que iria iniciar ataques aéreos de artilharia pesada contra alvos em Trípoli depois de ter esgotado os “meios tradicionais” de guerra.

Acampamentos militares paredes meias com centros de migrantes

A cidade de Tajura acolhe vários acampamentos de forças militares aliadas do Governo líbio que têm sido alvo de ataques aéreos nas últimas semanas.

A Líbia é o principal ponto de partida de migrantes africanos que fogem da pobreza e da guerra e tentam chegar a Itália de barco. Muitos são apanhados pela Guarda Costeira líbia, apoiada pela União Europeia. Milhares de migrantes são mantidos em

centros de detenção, muitas vezes em condições que as Nações Unidas e grupos de defesa de direitos humanos classificam como desumanas.

Os apoios regionais na batalha por Trípoli

A campanha de ataques aéreos das forças de Haftar não conseguiu tomar Trípoli em três meses de combates. Na semana passada, o ENL perdeu Gariam, uma cidade estratégica e a sua principal base avançada, para as forças leais ao Governo central.

Ambos os lados em confronto têm o apoio militar de potências regionais. Há anos que o ENL é abastecido pelos Emirados Árabes Unidos e pelo Egito, enquanto a Turquia terá recentemente embarcado armas para Trípoli para conter as investidas de Haftar.

A batalha pela capital líbia já matou mais de 650 pessoas, entre militantes e civis, e provocou mais de 94 mil deslocados, segundo a Organização Mundial de Saúde.

Haftar foi um oficial ao serviço de Muammar Kadhafi antes de se exilar e voltar mais tarde como senhor da guerra no leste líbio. Em turbulência desde a deposição e morte de Kadhafi em 2011, o país tem duas administrações rivais: um Governo estabelecido na capital e chefiado por Al-Sarraj e um outro na cidade oriental de Tobruque, alinhado com Haftar.