Boris Johnson, o candidato favorito à liderança do Partido Conservador e à chefia do próximo Governo do Reino Unido, admite que precisará da cooperação da União Europeia (UE) para evitar a reposição da fronteira irlandesa ou de pesadas tarifas comerciais no caso de um Brexit sem acordo. Em entrevista à BBC, esta segunda-feira, Johnson disse: “Não depende apenas de nós.”
Apesar de se mostrar disposto a sair da UE sem acordo, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que “não acredita por um momento” que isso venha a acontecer.
O acordo negociado pela primeira-ministra demissionária, Theresa May, “está morto”, sublinhou Johnson, insistindo ser possível negociar um novo acordo com Bruxelas antes de 31 de outubro, a nova data para a saída do Reino Unido da UE, porque o cenário político mudou. “Penso que a política mudou muito desde 29 de março”, disse, referindo-se ao prazo inicial do Brexit. “Penso que em ambos os lados do Canal há uma perceção realmente diferente do que é necessário”, acrescentou.
Johnson acredita ser capaz de convencer Bruxelas em questões-chave
O candidato afirmou que seria capaz de convencer Bruxelas a resolver a questão da fronteira com a Irlanda, uma questão crucial, apesar das repetidas advertências de líderes da UE de que isso era impossível. Há “abundantes correções técnicas” que podem ser feitas para evitar controlos de fronteira, referiu.
Em caso de ser eleito para o número 10 da Downing Street, Johnson iniciará novas negociações para discutir um acordo de livre comércio, esperando que a UE esteja disposta a conceder um período de tempo de manutenção do atual estado das coisas até que um acordo seja finalizado após o Brexit. O candidato também se comprometeu a aprovar nova legislação o mais rapidamente possível de modo a garantir os direitos dos cidadãos da UE que vivem no Reino Unido.
Partidos Conservador e Trabalhista enfrentam “perigo real de extinção”
Johnson sugeriu ainda que os líderes da UE podem mudar as suas atitudes relativas à renegociação porque há deputados do Partido do Brexit que eles não querem no Parlamento Europeu e querem receber os 39 mil milhões de libras (cerca de 43,6 mil milhões de euros) que foram prometidos como parte do chamado acordo de divórcio.
No Reino Unido, os deputados também poderão estar mais dispostos a apoiar um acordo revisto, depois de o acordo de May ter sido chumbado três vezes, por perceberem que os dois principais partidos, o Partido Conservador e o Partido Trabalhista, enfrentam um “perigo real de extinção” se o Brexit não avançar, considerou.
Não fala sobre discussão com namorada e acusações de “cobardice” de Hunt
Quanto à altercação com a sua namorada, que na sexta-feira levou a polícia a ser chamada à casa que partilham, o candidato recusa-se a dar mais pormenores. “Não falo sobre coisas que envolvam a minha família, os meus entes queridos. E há uma boa razão para isso, que é: se o fizer, arrasto-os para coisas que realmente não são justas para eles”, comentou.
Também não respondeu às acusações de “cobardice” do seu opositor e atual ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, por evitar mais frente-a-frentes televisivos. Johnson aceitou participar num debate a 9 de julho na ITV, mas a Sky News tinha um debate agendado para esta terça-feira que acabou por ser cancelado porque o candidato declinou o convite.
Quanto ao resto, Johnson prometeu que, se eleito, governaria “no centro-direita” porque é no centro “que se ganha”.