“Estamos a abrir uma nova página em Istambul. Nessa nova página, haverá justiça, igualdade, amor.” Foi com promessas de um “novo começo” que o candidato do Partido Revolucionário do Povo (CHP, de centro-esquerda), Ekrem Imamoglu, fez este domingo o seu discurso de vitória na repetição das eleições autárquicas em Istambul, na Turquia.
Com 99% dos votos contados, Imamoglu conseguiu 54% do apoio, enquanto Binali Yildirim, o candidato do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, de direita), do Presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, não foi além dos 45%. Isto representa uma vantagem de cerca de 775 mil votos, um enorme aumento face aos 13 mil votos de diferença das eleições realizadas a 31 de março na maior cidade turca.
Yildirim já reconheceu a derrota e Erdogan felicitou Imamoglu via Twitter, desejando que “os resultados sejam benéficos para a nossa Istambul” e sublinhando que “a vontade nacional voltou a manifestar-se”.
“Senhor Presidente, estou pronto para trabalhar em harmonia consigo”
O resultado está a ser descrito como um grande revés para Erdogan, que anteriormente tinha dito que “quem vence Istambul vence a Turquia”.
Sublinhando que os seus apoiantes haviam “consertado a democracia”, Imamoglu mostrou-se disponível para colaborar com Erdogan: “Senhor Presidente, estou pronto para trabalhar em harmonia consigo.”
Apesar de ser mayor do distrito de Beylikdüzü, em Istambul, Imamoglu não era muito conhecido antes das eleições de março. Já o seu opositor, Yildirim, foi um membro fundador do AKP e primeiro-ministro entre 2016 e 2018, ano em que a Turquia se tornou uma democracia presidencial e esse posto deixou de existir. Em fevereiro, Yildirim foi eleito presidente do novo Parlamento e, antes disso, servira como ministro dos Transportes e Comunicações.
Deixou de ser “ilegal derrotar o AKP”, como afirmara vice-presidente do CHP
Após a divulgação dos resultados em março, o partido no poder alegou que os votos tinham sido roubados e que muitos observadores não tinham autorização oficial, levando a comissão eleitoral a exigir uma nova votação. Os críticos argumentam que a pressão de Erdogan esteve por trás da decisão.
Imamoglu chegou mesmo a ser investido como presidente da Câmara de Istambul em abril, classificando depois a decisão de agendar uma nova votação como “traiçoeira”. Em maio, o vice-presidente do CHP, Onursal Adigüzel, sublinhou que a decisão mostra que “é ilegal derrotar o AKP” e que se trata de “ditadura pura e simples”. “Este sistema, que anula a vontade do povo e desconsidera a lei, não é democrático nem legítimo”, acrescentou.
Em março, além de Istambul, a aliança do AKP com os nacionalistas do MHP também perdeu as presidências das Câmaras de Ancara, a segunda maior cidade e capital do país, e de Esmirna, a terceira maior cidade. Foi a primeira derrota eleitoral de Erdogan num quarto de século. O partido do Presidente também perdeu várias zonas urbanas da costa mediterrânica, como Antália e Adana.