O recuo de Donald Trump não foi suficiente para acalmar, pelo menos, o tom das provocações entre Estados Unidos e Irão. Este sábado, Teerão decidiu dar uma resposta forte aos norte-americanos, garantindo que, “independentemente das decisões que os Estados Unidos tomem”, o país não vai “permitir que nenhuma das fronteiras seja violada”: “O Irão enfrentará com firmeza qualquer agressão ou ameaça americana”.
A declaração, feita por Abbas Mousavi, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, mostra que Teerão não está, para já, disposta a suavizar o tom após uma escalada de tensão que se intensificou nos últimos dias entre os dois países - mas que já vem de trás, e que se anunciava desde que, em maio do ano passado, os Estados Unidos decidiram abandonar o acordo internacional sobre energia nuclear assinado entre os membros do Conselho de Segurança Permanente da ONU, com Trump a acusar o Irão de mentir sobre o seu programa nuclear e a anunciar a imposição de sanções económicas “ao mais alto nível”.
Esta quinta-feira, o incidente que espoletou novas ameaças: Teerão abateu um drone de vigilância norte-americano, tendo mesmo, segundo o “The Guardian”, chamado um representante dos Emirados Árabes Unidos, por estes terem permitido que o aparelho fosse lançado a partir de uma base norte-americana instalada no território daquele país.
Trump não demorou a responder - e a recuar na resposta: se começou por ordenar ataques aéreos ao Irão como represália pelo abatimento do drone, acabou por cancelar as ações militares a minutos do seu início, numa manobra que mereceu uma chuva de notícias e comentários na imprensa norte-americana, mas que continua a não estar totalmente esclarecida.
Segundo o próprio Presidente, que falou à NBC sobre o caso, acabou por tomar a decisão de cancelar os ataques quando teve noção do impacto que estes teriam sobre a população iraniana. Meia hora antes, contou Trump, chamou os generais. “Quero saber uma coisa antes de irem: quantas pessoas morreriam, neste caso iranianos." Perante a resposta que recebeu - “aproximadamente 150” - o Presidente mudou de ideias: “Pensei por um segundo e disse: sabem que mais, eles abateram um drone sem tripulação e nós aquí teríamos 150 pessoas mortas dentro de meia hora. E eu não gostei disso, não achei que fosse proporcional.”
Um risco para a reeleição
O processo poderá não ter sido exatamente este: segundo o “The New York Times”, Trump aconselhou-se com os seus generais, diplomatas, advogados e conselheiros ou até com o pivô da Fox News Tucker Carlson, e terá tido em conta argumentos como o risco que a manobra representaria para a sua reeleição em 2020 ou a incoerência de tomar agora uma decisão que poderia desencadear uma guerra, coisa que Trump não tem querido.
Também à NBC, Trump acabou por garantir por um lado que se entrasse em guerra com o Irão o que aconteceria seria a “obliteração” do país, mas disse não ser isso o que “procura fazer” e chegou a falar na hipótese de haver conversações com algumas “pré-condições”, que não especificou. Mas acabou por mudar de assunto e lembrar o desacordo entre os dois países quanto às questões nucleares. “Se quiserem falar sobre isso, ainda bem. Se não, podem viver por muito tempo numa economia destruída”.