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“É hoje? Tinha-me esquecido.” Repressão na Praça de Tiananmen ignorada no seu 30.º aniversário

A 4 de junho de 1989, o Governo chinês enviou tanques para reprimir os protestos pró-democracia naquela praça da capital chinesa. As estimativas do número de mortos variam entre as muitas centenas e os milhares. A data não é discutida abertamente na China nem será formalmente assinalada pelo Governo, que reforçou os instrumentos de censura

MATHEW KNIGHT/AFP/Getty Images

A Praça de Tiananmen, em Pequim, estava lotada na manhã desta terça-feira. No entanto, a equipa de reportagem da Reuters encontrou sobretudo pessoas que desconheciam a sangrenta repressão dos protestos, liderados por estudantes há 30 anos, ou que não queriam falar sobre o assunto.

“Nunca ouvi falar disso”, disse um homem perto da praça onde, a 4 de junho de 1989, o Governo chinês enviou tanques para reprimir os protestos pró-democracia. As autoridades nunca divulgaram o número de mortos. As estimativas de grupos de direitos humanos e de testemunhas variam entre as muitas centenas e os milhares.

Uma mulher, interpelada pela agência de notícias, respondeu: “É hoje? Tinha-me esquecido.” Mas, assim que forças de segurança se aproximaram, rapidamente afugentou os repórteres.

O 30.º aniversário da repressão de Tiananmen não é discutido abertamente na China nem será formalmente assinalado pelo Governo, que, em vez disso, reforçou os instrumentos de censura. As ferramentas para detetar e bloquear conteúdo relacionado com os acontecimentos de 1989 atingiram níveis de precisão sem precedentes, ajudadas por dispositivos de reconhecimento de voz e imagem, revelaram os censores das empresas tecnológicas chinesas.

“Aqueles estudantes morreram em vão”

A segurança na praça e nas proximidades é apertada, sem sinais de quaisquer protestos ou eventos comemorativos. Centenas de agentes da polícia, com uniforme e à paisana, verificam documentos de identificação e inspecionam as malas dos carros, descreve a Reuters. A Amnistia Internacional acusa as autoridades chinesas de terem detido, colocado em prisão domiciliária e ameaçado dezenas de ativistas nas últimas semanas.

Com 67 anos e Li como nome de família, um homem diz lembrar-se claramente daquela noite. “Estava a regressar a casa do trabalho. A Avenida Changan estava repleta de veículos incendiados. O Exército de Libertação Popular matou muitas pessoas. Foi um banho de sangue”, recordou. Questionado sobre se considerava que o Governo devia fazer um retrato completo da violência, Li respondeu: “Qual é o objetivo? Aqueles estudantes morreram em vão.”

Entre as exigências dos estudantes contavam-se a liberdade de imprensa e de expressão, a divulgação do património dos líderes e a liberdade de manifestação.

No domingo, falando num fórum sobre segurança em Singapura, o ministro chinês da Defesa, Wei Fenghe, disse que a repressão foi a decisão “correta”, destacando a estabilidade do país desde então.