Sempre que viaja pelo país, Kim Jong-un leva no seu rasto ‘um pequeno exército’ de homens munidos de um pequeno bloco de apontamentos numa das mãos e uma caneta na outra. Poderiam até passar por jornalistas não fosse o caso de muitos deles envergarem o uniforme militar.
Trata-se de membros do Partido dos Trabalhadores da Coreia — o único permitido na República Popular Democrática da Coreia — e também de militares. “Anotam o que o líder diz e depois asseguram que as suas instruções são seguidas e concretizadas”, explica ao Expresso Steve Tsang, diretor do Instituto da China da Escola de Estudos Africanos e Orientais (SOAS), da Universidade de Londres.
Esta prática verifica-se em toda e qualquer visita do líder norte-coreano ao terreno, sejam instalações militares, propriedades agrícolas, escolas, fábricas ou locais de lazer. Em cada sítio, Kim Jong-un “vai dando alguns conselhos sobre como as coisas devem ser feitas”, diz ao Expresso James Grayson, professor jubilado da Universidade de Sheffield especialista em assuntos coreanos. Os “apparatchiks” apontam tudo para que a vontade do líder não fique por cumprir.
Este tipo de aparições públicas enquadra-se na chamada política de Orientação no Local, explica James Grayson, e é um elemento-chave da propaganda norte-coreana e do culto da personalidade incentivados pela dinastia Kim. “Esta é uma prática característica da família que tem governado a Coreia do Norte.”
“Isto não começou com Kim Jong-un”, corrobora Steve Tsang. “Foi iniciada quando estava no poder o seu avô”, Kim Il-sung, o fundador da Coreia do Norte, em 1948. A seguir, foi seguida pelo seu filho Kim Jong-il (1994-2011) e agora pelo neto, que lidera o país há mais de sete anos.
Nas visitas ao terreno, Kim Jong-un faz-se acompanhar pelos órgãos de informação oficiais — nomeadamente pela agência noticiosa KCNA, que disponibiliza as fotos que acompanham este artigo (muitas delas sem referência a data ou local) —, canais transmissores por excelência da sua 'liderança benevolente'.
Num misto de preocupação, conhecimento e grande sabedoria — já que faz reparos sobre tudo, desde equipamentos militares a espigas de milho —, o líder surge aos olhos dos norte-coreanos como alguém verdadeiramente empenhado no seu bem estar.
Os diligentes funcionários surgem convenientemente enquadrados nas imagens captadas, provando que o Estado — e a ideologia Juche (autossuficiência) — funciona. Próximos do líder, dispensam-lhe toda a atenção e acompanham-no no seu estado de espírito. Não raras vezes, riem-se com ele e chegam a pousar os blocos de notas para o aplaudir.