Internacional

Franco vai mesmo sair do Vale dos Caídos. E haverá uma lei a dizê-lo

Face à contestação persistente da família do antigo ditador, o Governo espanhol decidiu precaver-se

Alguns apoiantes de Franco protestam contra a exumação dos restos mortais do ditador, que se encontram no monumento do Vale dos Caídos, próximo de Madrid
Javier Barbancho

O Governo socialista espanhol vai mesmo para a frente com a exumação dos restos mortais de Francisco Franco que se encontram no monumento do Vale dos Caídos, próximo de Madrid. A decisão é fortemente contestada pela família do antigo ditador, mas o primeiro-ministro Pedro Sanchez vai defender-se contra um eventual processo judicial elaborando uma lei que lhe dá cobertura.

Segundo revela o diário "El País" esta manhã, tratar-se-á de uma modificação à Lei de Memória Histórica, através de um par de artigos sucintos. O Governo não espera ter problemas em conseguir aprovação no Congresso. Apesar de o Partido Popular e o partido Cidadãos se terem oposto a que se agitasse agora a memória histórica, Sanchez tem bons motivos para duvidar que se oponham ativamente. Já em maio do ano passado o Congresso aprovou a ideia da trasladação, por 189 votos contra um – e 140 abstenções.

O atual líder do PP, Pablo Casado, afirma: "Não vou defender nunca esse edifício nem quem está enterrado lá dentro, até por razões familiares, como neto de alguém que sofreu represálias do regime franquista [o seu avô foi preso] mas a Espanha tem de olhar para o futuro". O mais provável será o seu partido voltar a abster-se, tal como o Cidadãos.

Para Sanchez, que assume a trasladação como uma das suas causas, um obstáculo poderia ser a Igreja, que anteriormente se manifestou contra e foi uma aliada próxima de Franco durante a ditadura. Mas a Igreja Católica de hoje já não é a mesma, e responsáveis seus já deram a entender que aceitam a medida.

A principal oposição vem assim da família, para quem uma exumação de alguém sem autorização dos familiares é uma forma de profanação. Numa altura em que decorre em Paterna (Valência) a escavação de mais uma fossa onde se encontram os corpos de cem fuzilados pelo regime de Franco, esse argumento perde grande parte da sua força.