A Guarda Civil espanhola executou esta quarta-feira de manhã uma operação de buscas e detenções em várias sedes da Generalitat (governo regional) contra o referendo independentista convocado para 1 de outubro e ilegalizado pelo Tribunal Constitucional de Espanha, detendo 14 políticos da região pelo seu envolvimento na organização da consulta.
Entre eles conta-se Josep Maria Jové, secretário-geral da vice-presidência da Generalitat, ao leme de Oriol Junqueras. Fontes policiais dizem que outros 11 conselheiros foram levados para interrogatório. Neste momento, dezenas de pessoas estão concentradas frente à Rambla de Barcelona em protesto contra a operação ordenada pelo presidente do governo central espanhol – "executada por decisão judicial para que a lei seja cumprida", declarou Mariano Rajoy ao Congresso em Madrid.
A par das detenções, quando faltam 11 dias para a consulta popular, a Guarda Civil está a fazer buscas às sedes da presidência catalã, dos assuntos económicos e dos assuntos externos. No Twitter, Jordi Sánchez, presidente da Assembleia Nacional da Catalunha (Parlamento), pediu aos funcionários públicos que trabalham nesses edifícios que resistam pacificamente às autoridades. "Chegou o momento, vamos resistir pacificamente; vamos sair à rua em defesa das nossas instituições."
Na terça-feira à noite, a polícia espanhola já tinha confiscado uma série de documentos diretamente relacionados com a votação banida, incluindo boletins de voto e envelopes, com agentes da polícia catalã destacados para o edifício-alvo em Terrassa a envolverem-se em confrontos com manifestantes independentistas que tentaram impedi-los de aceder ao espaço.
Reagindo esta manhã à detenção do seu conselheiro, Junqueras acusou as autoridades espanholas de estarem a atacar as instituições regionais e, assim, também os cidadãos da Catalunha. "Não vamos permiti-lo", prometeu. O governo regional liderado por Carles Puigdemont continua a garantir que vai avançar com o referendo dentro de 11 dias contra a vontade de Madrid e contra as ordens do Tribunal Constitucional, que este mês suspendeu a lei de referendo que o parlamento catalão tinha aprovado para poder avançar com a consulta junto dos cerca de 7,5 milhões de eleitores da região.
Na semana passada, o Ministério Público espanhol tinha convocado os mais de 700 autarcas da Catalunha para interrogatório, com o procurador José Manuel Maza a prometer que ia ordenar a detenção de todos os presidentes de Câmara que apoiam a consulta caso não aparecessem em tribunal. As audiências tiveram lugar na terça-feira, com a procuradoria a abrir uma investigação formal a todos eles pelo seu apoio à consulta – que, a concretizar-se, irá decorrer em escolas e edifícios municipais da região.
Entretanto, o governo espanhol também anunciou que vai assumir o controlo das finanças da região na tentativa de impedir que dinheiro público seja alocado para o referendo; se tiver mesmo lugar, a procuradoria poderá indiciar vários políticos da generalitat por desvio de fundos. Com o fim do prazo para o cancelamento da consulta, Madrid vai ficar a cargo do financiamento da maioria dos serviços da Catalunha, controlando inclusivamente o dinheiro que serve para pagar os salários da função pública.
Ontem, Oriol Junqueras foi ao Supremo Tribunal interpôr recurso a esta decisão, acusando o Executivo de Rajoy de "comportamentos irresponsáveis" e dizendo-se confiante de que o recurso será aprovado, o que levará à suspensão do mais recente passo de Madrid. Aos jornalistas, o número dois do governo regional também garantiu que têm todos os recursos de que necessitam para cumprir as suas obrigações.
(Notícia atualizada às 13h16)