Ambição para Portugal

"Onde é que perdemos esse orgulho de fazer bem feito?"

Os representantes da geração de 60 que se reuniram para o quarto debate do projeto da KPMG “Ambição para Portugal”, a que o Expresso se associa como media partner, admitem viver num país incomparável (para melhor) do que aquele que conheceram na infância. Desenvolvimento, condições ou igualdade de género, são vários os índices em que a satisfação é evidente. Mas que isso não se confunda com inconformismo num país em que poderá ter que se libertar de amarras "ideológicas" para fazer mais

As referências da geração de 60 vão desde a memória indelével da chegada do homem à Lua ao sentimento de dever cumprido misturado com muita esperança pela entrada de Portugal no clube dos "países ricos" da Comunidade Económica Europeia. Sem esquecer a vivência da liberdade e das convulsões que caracterizaram o período revolucionário do 25 de abril e o fim da ditadura.

Mas o que retiram das transformações ao longo das últimas décadas? Pelo que disseram os representantes da geração de 60 que se juntaram em Lisboa para o quarto debate do projeto da KPMG “Ambição para Portugal” - a que o Expresso se associa como media partner - sai um país mais desenvolvido, mais aberto, e que em muito pouco é igual ao que conheceram. Em que praticamente todos os índices de desenvolvimento social deram saltos imensos num curto espaço de tempo e em que a sua geração beneficiou de uma ascensão social como poucas vezes se terá visto em Portugal.

Mas depois da conquista, aparece muitas vezes a desilusão pelo que se falha em superar e pelos (muitos) problemas que subsistem com um equilíbrio difícil entre a herança revolucionária e os desafios do mundo atual que pedem soluções e respostas que esta geração não pensou ter que dar. Por isso questionam-se sobre o legado que deixam, as opções que tomam, e como podem ajudar os mais novos a tomarem as opções mais corretas para o futuro do país. Com muito inconformismo à mistura.

É o retrato de uma conversa que teve a moderação de Pedro Boucherie Mendes, diretor de conteúdos digitais de entretenimento na SIC, e que contou com a participação de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome; João Garcia, alpinista; Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa; Nathalie Ballan, fundadora da Sair da Casca; e Eugénia Galvão Teles, jurista.

Conheça as principais ideias.

Transformação

  • "Não teria imaginado o que seria Portugal quando cheguei a Portugal", recorda Nathalie Balan, aquando da sua vinda de França. Como "europeístas convictos", juntamente com o marido português, "tínhamos convicção que em 2025 seria possível estarmos próximos" dos restantes países. "Em alguns aspetos foi muito rápido, noutros menos", reflete.
  • "Portugal é um país muito mais desenvolvido, mas queremos mais", exorta Isabel Jonet, que admite não saber "qual era o país que imaginava". E se lhe perguntarem "como será o país em 2050", também não sabe,mas acredita "que será melhor".
  • Até porque subsiste um "orgulho de ser português, de "sermos poucos mais deixamos a nossa marca", apesar de ser mais visível nos emigrantes portugueses no estrangeiro e substituído muitas vezes por uma maior complacência cá. "Onde é que perdemos às vezes esse orgulho de fazer bem feito?", questiona?
  • "Nos anos 80 Portugal era terceiro mundo, nos anos 90, era de igual para igual", defende Eugénia Galvão Teles, que destaca, por exemplo, a "evolução da situação da mulher em Portugal. A velocidade a que foi feita é impressionante".

Problemas estruturais

  • "Tem havido uma degradação do ensino público ao longo de décadas" e uma "degradação das condições dos professores e da motivação", argumenta Isabel Capeloa Gil, para quem é claro que a "desigualdade social impacta a forma como os estudantes fazem as suas aprendizagens".
  • "Andamos muito para a frente na tecnologia", como é o caso "da Via Verde", aponta João Garcia. "Agora em termos de organização do país…"
  • É essencial "olhar para as zonas mais desfavorecidas e investir lá brutalmente em creches, porque isto tem um grande impacto. Temos um grande atraso no pré-escolar", acrescenta Eugénia Galvão Teles.

Diferenças geracionais

  • Há pessoas "que ideologicamente estão presas ao 25 de abril" e impedem a realização de mudanças fundamentais, acredita Isabel Jonet, algo que já não é tão evidente nas novas gerações.
  • "Não sabem falhar. É preciso saber falhar", diz Isabel Capeloa Gil, para de seguida fazer um pouco de introspeção. "Nós somos uma geração avessa ao risco. Precisamos de os ajudar".
  • "Não conseguimos ter a igualdade de oportunidades em Portugal que a minha geração teve. Devíamos estar mais preocupados com isso", sustenta Nathalie Balan.

Futuro

  • "Vivemos numa confortável Europa", pelo que mesmo perante os problemas, "é preciso empatia", considera João Garcia.
  • Existe uma "perceção dos países sobre emigração, que não é só nossa, de quem vai para fora está a trair o país". Algo contraproducente, defende Isabel Capeloa Gil, e que está em dissonância com o mundo atual. Sobretudo quando há um número cada vez maior de alunos estrangeiros em Portugal que podem ser aproveitados para alavancar uma nova era de transformação do país. "Temos uma oportunidade única com esta circularidade toda", lança.
  • Se hoje o perfil da emigração portuguesa é muito diferente do que era há uns anos, há algo que não muda: "São atraídos por condições muito melhores", reitera Isabel Jonet, com a certeza que isso "não é prejudicial se os conseguirmos atrair de volta".
  • Deixar um país melhor é a meta da geração 60 e Nathalie Balan questiona: "Somos todos líderes, o que fazemos para mudar?"

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