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Helena Canhão: “Os homens quando enfrentam a doença podem apresentar níveis elevados de ansiedade face ao diagnóstico”

Gripe (52%), doenças do coração (34%) e depressão (24%) são as doenças mais prevalentes na população, de acordo com o estudo. Os antecedentes familiares (41%), a idade (32%), o sedentarismo (31%) e o excesso de peso (30%) figuram no rol de preocupações. A médica Helena Canhão defende que sejam feitas “abordagens apropriadas às realidades e necessidades”. Esta é a quarta de dez entrevistas relacionadas com o estudo da GfK Metris para o Expresso sobre “A Saúde do Homem”

Tiago Miranda

O cancro do cólon do recto (52%), seguido do cancro do pâncreas (49%) e do pulmão (44%), são os três tipos de cancro que mais preocupam os portugueses. Esta perceção está alinhada com os tipos de cancro mais prevalentes ou mais letais em Portugal?

Sim, a perceção está alinhada. O cancro do pulmão e o cancro colorretal são as principais causas de morte nos homens. O cancro do pâncreas é frequentemente um cancro de mau prognóstico, com elevada letalidade.

Que papel pode e deve ter a academia na promoção de uma maior literacia em saúde, sobretudo entre os homens?

Deve assumir um papel central – e ativo – na promoção da literacia em saúde, especialmente entre os grupos populacionais que tradicionalmente menos recorrem aos cuidados médicos, como é o caso de muitos homens, que com frequência tendem a procurar ajuda em situações limite. O papel da academia deve ser também o de se abrir à sociedade, assumindo a responsabilidade de contribuir para o aumento da literacia em saúde da população em geral. Esta missão de extensão à comunidade é essencial. É fundamental desenvolver programas de literacia em saúde desenhados especificamente para os diversos grupos – sejam eles vulneráveis ou não – com abordagens apropriadas às suas realidades e necessidades.

No caso dos homens, acresce ainda a importância da prevenção e do diagnóstico precoce de patologias, como as doenças cardiovasculares e as que afetam o aparelho urogenital masculino.

A resistência masculina é também uma questão cultural. Como é que as escolas médicas podem ajudar a formar profissionais mais preparados para lidar com estas barreiras?

Podem – e devem – ter um papel ativo na superação destas barreiras, preparando profissionais mais conscientes, empáticos e informados.

É essencial compreender melhor como determinados grupos, como os homens, se relacionam com o sistema de saúde. Sabemos, por exemplo, que recorrem menos aos cuidados médicos de forma preventiva, mas que, quando enfrentam a doença, podem apresentar níveis elevados de ansiedade face ao diagnóstico. A NOVA Medical School, no seu Centro de Conhecimento de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), está a desenvolver um estudo específico sobre o comportamento dos homens em contexto de saúde, que permitirá aprofundar este conhecimento.

Mas não basta agir do lado dos profissionais – é igualmente necessário promover uma maior literacia em saúde na população masculina. Esta deve abranger o conhecimento sobre doenças, fatores de risco, medidas de prevenção e hábitos de vida saudáveis. É um trabalho contínuo de proximidade e educação para a saúde.

Nome: Helena Canhão

Idade: 57 anos

Profissão: Médica reumatologista, professora catedrática de Medicina e diretora da NOVA Medical School da Universidade NOVA de Lisboa

Resumo profissional: Reumatologista e investigadora, é diretora da Nova Medical School e uma das cientistas mais citadas em Portugal. Lidera projetos de investigação clínica em doenças crónicas e tem contribuído para a modernização do ensino médico e para o reforço da investigação biomédica nacional e internacional.

Lema de vida: Inovar e cuidar

“A Saúde do Homem” é uma iniciativa que visa retratar os cuidados de saúde da população masculina e sensibilizar a sociedade para a importância da prevenção e do tratamento de doenças que a afetam. Um projeto Expresso, com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine e o apoio institucional da Ordem dos Médicos.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa