Sob o mote “Mindshifting - for Better Lives”, e com um programa dividido em três partes - dos dados à ação, inovação no centro da transformação, e novas vias para o progresso -, a terceira edição do Data With Purpose Summit (DWP), organizada pela NOVA Information Management School (NOVA IMS), reuniu um conjunto de empresários, académicos e líderes do sector público para uma partilha de experiências e de perspetivas sobre a utilização dos dados como fonte essencial para o desenvolvimento da inteligência artificial (IA), nos mais diversos sectores.
Desde logo a educação, pilar fundamental para a atualização de competências, obrigatória num mundo em mudança. Um sector que está, ele próprio, a atravessar uma transformação profunda, “com os dados e a inteligência artificial no centro dessa mudança”, assegura Miguel de Castro Neto. O diretor da NOVA IMS acrescentou, durante a sessão de abertura, que, apesar disso, o grande desafio não é tecnológico, mas sim humano. "A tecnologia não deve substituir, mas sim potenciar. Por isso, adotámos uma abordagem disruptiva, baseada em experiências de sucesso internacionais e numa visão pedagógica que abraça o novo”.
Miguel de Castro Neto falava do modelo educativo adotado pela NOVA IMS – o EDGE – que combina “a metodologia certa, uma experiência de aprendizagem diferenciadora e decisões baseadas em dados”. Na prática, isto significa usar IA generativa para criar aulas mais interativas, personalizadas e eficazes. Os alunos deixam de estar apenas a ouvir – participam, exploram, experimentam - e tudo isto acontece em salas de aula imersivas, híbridas, e centradas no estudante. Mas, sublinha o diretor, “mais do que os espaços ou as ferramentas, o que importa é a visão: formar pessoas preparadas para um mundo em mudança, com ética, criatividade e capacidade para resolver problemas reais”.
Ética antes da tecnologia
Num contexto de rápida transformação digital, a convergência entre ciência dos dados, IA e ciências sociais levanta desafios éticos e oportunidades sem precedentes. “Estamos a viver a 4ª revolução industrial, liderada pela IA, mas a grande questão é como isto melhora a vida das pessoas?”, questionou Martin Anthony. Para o professor da London School of Economics, e keynote speaker nesta conferência, a tecnologia não é suficiente.
Na sua opinião, é crucial que “os sistemas sejam transparentes e compreensíveis, para que, quando o ‘computador diz não’, possamos explicar porquê”. Questões como a privacidade e o enviesamento algorítmico exigem uma abordagem rigorosa, pois “temos de estar convencidos de que os dados com base nos quais foram treinados são válidos”.
Para garantir que a IA serve a sociedade, Martin Anthony defende que devemos manter o objetivo humano no centro das atenções e que a ética deve ser integrada no desenvolvimento da IA desde o início e não tratada como uma reflexão tardia. “O acesso deve ser sustentável, equitativo, positivo para a sociedade, e usar um ‘otimismo sóbrio’. O professor sublinha ainda que o progresso só será benéfico se houver uma colaboração entre governos, indústria e comunidades, e alerta: “O futuro não é sobre IA contra humanos, mas IA com humanos”.
O Data With Purpose Summit contou com um conjunto de oradores, de organizações públicas e privadas, nacionais e internacionais, e da academia que pode consultar aqui.
Conheça outras conclusões:
Dos dados à ação
- “Fazer as questões certas é essencial”, afirma Ivo Bernardo. O cofundador da DareData defende que o "mestre dos dados" é a ‘personagem’ que está a conduzir a mudança e as transformações nas empresas para democratizar a utilização dos dados, e para que sejam usados da forma adequada, para melhorar as decisões. Este é um processo difícil pois, sublinha, “é mais fácil ficar afogado em dados”.
- A velocidade de aprendizagem é uma competência essencial, que pode aprender-se. “É preciso ser um high-agent”, diz Filip Petrovski. Para o CEO da Data Masters, isto significa ser capaz de encontrar soluções rápidas e de descomplicar.
- O impacto de dados de qualidade é enorme, mesmo em empresas de pequenas dimensões, defende Frederico Jesus, cofundador da Home Sweet Sushi.
- Utilizar os dados para juntar conhecimento comunitário e para dar consistência às sociedades é a missão do projeto Rede Rua, fundado por Callie Wentling. “Trata-se de tornar os dados mais acessíveis à sociedade”, explica.
- “O problema não são os algoritmos, mas conseguir fazer a engenharia de dados para criar os modelos certos”, defende Pedro Simões Coelho. O professor na NOVA IMS e responsável pelo Laboratório de Políticas Públicas baseadas em dados, elencou algumas das vantagens da utilização dos dados no sector público através de alguns projetos que está a acompanhar.
- Na vertente da contratação pública, Bruno Damásio revela que a grande revolução não foi a tecnologia, mas o que foi feito com ela. O professor na NOVA IMS explica que foi criado um framework capaz de agregar dados que permitem fazer uma gestão mais eficiente de toda aquela estrutura.
Inovação no centro da transformação
- Personalização: 75% dos consumidores espera ser reconhecido pelas suas preferências. Contudo, “a interação com chatbots ainda não é uma preferência da maioria, e publicidade gerada por IA não está a ser bem-sucedida”, revela Anna Mattila, professora na Pennsylvania State University.
- A IA permite transformar dados em informação, e esta em políticas públicas. A convicção de Ricardo Batista Leite materializa-se na utilização de machine learning como potenciador para processo de transformação no sector da saúde. Tecnologia que servirá, defende o CEO da HealthAI, para reduzir a carga de doença que está a destruir o SNS.
- “Saúde pública deve trabalhar com dados e usar a IA para maior eficiência”, diz Sónia Dias. A diretora da NOVA National School of Public Health alerta, contudo, para a falta de preparação que ainda existe na força de trabalho.
- IA permite aliar múltiplas dimensões, mas não deve descurar dimensão humana. “É um trabalho que exige planeamento estratégico, sempre ligado às necessidades”, aponta Miguel Arriaga, da Direção-Geral da Saúde (DGS).
- “A melhor IA é aquela que o utilizador nunca vê”, afirma Vitor Manita. O responsável pela área de GenAI & Machine Learning na Loka, recorda a redução do número de horas dedicadas a burocracia clínica como um dos grandes benefícios da introdução da IA na saúde. Mas, reforça, “é preciso começar pelo problema e não pela tecnologia”.
- Os Large Language Models (LLM) estão a fazer emergir um 'reconhecimento social' que lhes permite pensar e aprender sobre os utilizadores. “Os LLM estão a fazê-lo para decidir como tratar cada utilizador”, explica Fernanda Viégas. A professora em Harvard, e cientista na Google, participa num projeto que cria modelos de utilizadores com vista a inverter esta avaliação enviesada da IA.
Novas vias para o progresso
- Os modelos de linguagem têm um grande potencial, mas a sua utilidade prática ainda está a ser explorada, tal como aconteceu com a internet nos anos 90. “A qualidade dos resultados dos LLM depende da forma como interagimos com eles”, garante Fernando Bação. O professor na NOVA IMS acredita que uma interação mais intensa e desafiadora é mais eficiente do que tratar o modelo como um oráculo.
- “A interligação de ciências do mar com o espaço e ciências de dados é fundamental para o futuro da economia azul em Portugal”, defende Ruben Eiras. O Secretário-Geral do Fórum Oceano revela que a área de 'tecnologia azul e observação' está em pleno crescimento, com investimentos significativos. “A tecnologia é crucial para a gestão dos oceanos, resolução de problemas climáticos, segurança e defesa, e para o desenvolvimento de atividades como aquacultura e eólica offshore”, acrescentou.
- A implementação de novas capacidades na Força Aérea leva tempo (8 a 10 anos), e há desafios éticos e a necessidade de formar líderes para o futuro. A explicação, do Major-General João Carlos de Bastos Jorge Gonçalves, subchefe do Estado-Maior da Força Aérea, destaca o trabalho que está a ser feito para o desenvolvimento de uma força de quinta geração, que atua em múltiplas dimensões e domínios (terra, ar, mar, ciber e espaço) com grande quantidade de informação.
- “A economia espacial e a conquista de territórios orbitais são o futuro, mas exigem adaptação, tempo e preparação genética para a vida no espaço”, diz Ricardo Conde. O presidente da Agência Espacial Portuguesa alerta para a existência de uma agenda que ameaça a humanidade, incluindo a questão climática e a necessidade de transformação digital. “O espaço é fundamental para aumentar a resiliência e garantir a soberania”.
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