Longe vão os tempos em que as compras online pareciam aquele primo afastado que raramente aparecia nas festas de família, mas que se foi integrando aos poucos, acabando por tornar-se no rei da festa.
O mesmo será dizer que, se há uns anos, a ideia de comprar um par de meias pela internet parecia uma missão digna de um filme, hoje tudo se compra online, desde ingredientes básicos para uma receita simples a uma máquina de fazer pipocas que, muito provavelmente, nem sequer fazia falta.
Os números mostram que o comércio eletrónico está a crescer a uma velocidade muito interessante em Portugal e Espanha. “As projeções para o final do ano de 2024 apontam para um crescimento do e-commerce de mais de 10% para Portugal (€12,26 mil milhões) e de mais de 11,3% para Espanha (€99,6 mil milhões)”, pode ler-se no “CTT e-Commerce Report 2024”, prevendo-se que “o valor total de compras online na Península Ibérica possa alcançar os €111,8 mil milhões no final do presente ano”. A revelação foi feita durante a 9ª edição do CTT e-Commerce Day, no qual ficou a conhecer-se este documento, apresentado por Alberto Pimenta, head of e-commerce dos CTT. Na cerimónia foram ainda entregues os prémios no comércio eletrónico.
“São valores relevantes. O crescimento em Portugal e Espanha, em conjunto, vai ser à volta dos 11/12 por cento em 2024, o que comparado com a média europeia é um crescimento mais elevado. E porquê? Porque Portugal e Espanha ainda revelam um gap importante relativamente às melhores práticas de e-commerce em relação aos países mais desenvolvidos da Europa, nomeadamente os países do norte da Europa e Reino Unido”, explica Alberto Pimenta.
De referir que, em 2023, já o valor de compras online havia ultrapassado os €100 mil milhões na Península Ibérica — o mercado português gerou €11,2 mil milhões (mais 8,8% do que em 2022), já o espanhol €89,4 mil milhões (um crescimento de 10% em relação a 2022). De acordo com o relatório, “o crescimento do e-commerce prende-se com o aumento das compras em sites de origem asiática (...), mas também à crescente normalização do hábito de comprar online em segunda mão”.
Em Portugal, os utensílios para o lar e os acessórios de moda foram as categorias mais compradas, já em Espanha registou-se um crescimento nos produtos alimentares de supermercado, bem como livros e filmes. Vestuário e calçado, assim como equipamentos eletrónicos e informáticos, são igualmente categorias populares nos mercados português e espanhol. Já as compras em segunda mão são “uma realidade” para 38,2% dos compradores online portugueses e 52,7% de espanhóis. No relatório ficou claro que as entregas em casa são cada vez mais valorizadas. O número de devoluções é “mais expressivo” em Espanha, mas cresce em ambos os mercados.
Inteligência artificial dominou conversas
Além da apresentação do relatório e da divulgação dos vencedores dos prémios e-commerce, a inteligência artificial (IA) foi outro dos pratos fortes do evento.
Carolina Afonso, professora no ISEG e CEO do Gato Preto, foi uma das oradoras e falou sobre o futuro do comércio eletrónico com IA. “Estamos a dar os primeiros passos na inteligência artificial que, aplicada ao e-commerce, pode transformar-se numa oportunidade muito relevante para as marcas”, afirma. “Neste momento, as oportunidades têm a ver com tecnologia, implica uma capacitação por parte das empresas em adotar a tecnologia correta. E desafios, pois temos de ter as pessoas certas na organização, porque implica uma cultura organizacional completamente diferente. Implica também rever processos, tornando-os mais atuais e contemplar sempre a dimensão ética que a IA também requer”, acrescenta.
Joana Santos, head of agency & partnerships da Google Portugal, marcou presença no painel sobre IA e as inovações no comércio eletrónico e admitiu que a mesma está a transformar o e-commerce “de muitas maneiras e em vários aspetos”. “Desde logo na forma de chegar aos consumidores de uma maneira mais relevante, mostrar a mensagem certa, à pessoa certa, no momento certo”, explica. “Há aqui grandes oportunidades que não podem ser desconsideradas e que vão ter de ser concretizadas”, opina, referindo-se ainda às empresas portuguesas: “Há interesse, as empresas percebem a necessidade, estão a aprender e a tentar perceber como podem fazer melhor e têm-nos procurado e aproveitado algumas das soluções que temos para concretizar esta oportunidade. Há um grande caminho a fazer, não necessariamente diferente daquele que há noutros mercados”.
Por seu turno, Nuno Miguel Nunes, diretor de operações e-commerce do Auchan Portugal, que integrou o painel que abordou a logística de comércio eletrónico alimentada por IA, sustentou que a inteligência artificial “está a mudar a maneira como nós vendemos ou interagimos com os clientes. Os dados, aliados com a IA, permitem-nos tomar decisões mais precisas e concretas”, diz.
Todos pensam na sustentabilidade
Além da IA, sustentabilidade foi igualmente palavra repetida durante a jornada. “Tanto e-buyers como e-sellers referem ter crescente preocupação com o tema”, estando dispostos “a pagar mais” para ter uma entrega sustentável, lê-se no estudo. “Há essa preocupação e tem a ver com os próprios clientes, e a própria sociedade, que está cada vez mais comprometida com as questões do ambiente. No processo de compra, cada vez mais o cliente tende a decidir em função de ofertas mais sustentáveis ao nível do produto, embalagens e transporte. Isso faz com que as empresas tenham um plano para se diferenciarem umas das outras para irem ao encontro das expectativas que a sociedade, e os consumidores em geral, têm cada vez mais em termos de serem amigas do ambiente”, regista Alberto Pimenta.
COMPRAS IBÉRICAS
1287
euros é o valor gasto, em média e por ano, por cada e-buyer português — cresce 12% em relação a 2023. Em Espanha o valor médio é de €1730 (crescimento de 7%)
5,3
milhões de compradores online em Portugal até final de 2024 — uma estimativa que significa um crescimento de 2% face a 2023; em Espanha este número atingirá os 26,3 milhões (aumento de 3%)
95,8%
dos compradores através do comércio eletrónico utilizam o telemóvel como meio preferencial