As estimativas diferem consoante a origem, mas são consensuais em atribuir uma valorização de dezenas de milhares de milhões ao mercado internacional de fitness. Segundo o “Statista”, é esperado um crescimento de 7,5% ao ano até ao final desta década, quando o sector deverá valer mais de 125 mil milhões de dólares. É precisamente este nicho que Mauro Frota quer explorar através da BHOUT, a startup que criou um saco de boxe inteligente que quer ver espalhado por todo o planeta.
“Somos filhos da pandemia”, começa por dizer o CEO, lembrando o período em que construiu “uma versão muito inicial da tecnologia” dentro de um ginásio, em Lisboa, para testar o conceito. Mais de três anos depois, o clube de fitness que fundou continua aberto na Avenida de Roma, em Lisboa, a que já se juntou um outro em Odivelas. “É aqui que temos toda a tecnologia montada”, explica.
Mas, afinal, o que faz este saco de boxe? O BHOUT Bag é “a versão mais aproximada de estar num ringue à pera” sem lesões ou dor, que recorre a uma combinação de pequenos sensores aliada a ferramentas de machine learning para “a localização do impacto, a força, a velocidade e uma série de outros dados”. Uma pequena câmara colocada no topo do saco faz ainda a leitura, em tempo real, dos golpes desferidos.
O desafio, recorda Mauro Frota, foi construir o hardware. “Ainda bem que não sabíamos no que nos estávamos a meter...”, brinca, em referência às dificuldades que sentiu em desenhar um produto totalmente de raiz. Para garantir que o BHOUT Bag consegue replicar a consistência do corpo humano, a startup desenvolveu um sistema multicamadas para “imitar a densidade dos diferentes tecidos corporais”. No interior há ainda quatro “bexigas de água”, cada uma com 20 litros, que simulam a densidade dos órgãos internos.
O gestor delineou um plano para conquistar o sucesso e não está disposto a abrir mão desse objetivo, do qual se tem aproximado cada vez mais nos últimos anos. Neste momento, garante ao Expresso, tem “cerca de 500 clubes em negociação” em todo o mundo, incluindo promessas de investimento na Arábia Saudita, nos EUA e até em Israel.
“Os desportos de combate são os que mais crescem no mundo em termos de fãs, mas que não gostam de ‘apanhar’ nem de bater, e, portanto, esta é uma forma de, misturando o gaming com o exercício físico, conquistar as pessoas”, explica. A estratégia passa por focar a venda do produto em três mercados verticais: o empresarial (conta já com o LinkedIn como cliente), o da hotelaria (com os hotéis Marriott em carteira) e o dos grandes ginásios. Juntam-se ainda as vertentes de venda direta ao consumidor e a dos eventos.
Na saúde, a BHOUT já foi desafiada para validar o saco de boxe como “uma ferramenta para prevenção e tratamento da doença de Parkinson” e ainda pelo exército de Israel, para “criar um software para treinar os militares em combate hand-to-hand”.
Depois de vencer a fase nacional do Global Tech Innovator, da KPMG, a startup vai agora enfrentar 22 finalistas internacionais na fase final da competição, em Lisboa, e ter a oportunidade de estar na Web Summit Lisboa (ver caixa). “Este awarness trazido pelo prémio é o mais importante”, aponta o empreendedor, que fez uma segunda hipoteca sobre a sua casa para financiar este projeto. “Esta empresa começou de um sonho que tive”, remata.
OS RESTANTES 22 FINALISTAS
Austrália
Gelomics Desenvolvimento de medicamentos com cultivo de tecidos humanos
Brasil
Protecting Brains & Saving Futures Ferramenta para diagnosticar lesões cerebrais em bebés
China
Easy Logic I&D na área das soluções para design eletrónico
Colômbia
EatCloud Gestão de excedentes alimentares para reduzir desperdício
Estónia
Gelatex Nanofibras biológicas para engenharia de tecidos e carne vegana
Finlândia
Skyfora Transformar estações-base de telecomunicações em scanners meteorológicos 3D
Alemanha
Oxolo (MindCloud) Criação de vídeos de produto ou anúncios com recurso a inteligência artificial
Gana
GrowForMe Evitar perdas das colheitas anuais e formar em agricultura regenerativa
Índia
FluxGen Gestão eficiente da água, com otimização de consumos
Irlanda
Precision Sports Technology Análise de exercício físico para reduzir risco de lesões
Itália
Pack Conecta trabalhadores para desenvolver competências
Quénia
Uncover Formulações inovadoras para cuidados com a pele
Japão
Thermalytica Inc. Isolamento térmico em indústrias como aviação
México
BioEsol Soluções para a transição para energias renováveis
Países Baixos
Incooling Sistemas de arrefecimento para centros de dados
Filipinas
Rezbin Waste Technology Rastrear a reciclagem de embalagens de plástico recolhidas
Arábia Saudita
Ejari Permite fracionar o pagamento anual de rendas e democratizar acesso a habitação
Suécia
Reselo Substituição de materiais por biomateriais mais sustentáveis
Taiwan
CarbonClean Energy Soluções integradas de sustentabilidade para reduzir emissões da indústria
Turquia
WiserSense Monitorização e deteção de falhas nas fábricas que podem trazer mais eficiência
Reino Unido
Halocycle Economia circular para o plástico reciclado
Estados Unidos
Mi Terro Transformar resíduos agrícolas em biomateriais de custo reduzido e escaláveis
Vencedor global conhecido no dia 13
Depois de meses de competição, a ideia mais inovadora entre as soluções apresentadas por 23 startups de todo o mundo vai ser anunciada em Lisboa, no próximo dia 13. Os finalistas vão reunir-se num hotel para a fase final, de onde sairá o grande vencedor. Por acontecer em simultâneo com a Web Summit Lisboa, todos os participantes vão ter acesso a um espaço na cimeira tecnológica para se poderem mostrar aos investidores internacionais. A Web Summit decorre na FIL entre os dias 11 e 14 de novembro.