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Renováveis: do autoconsumo às metas “ambiciosas” da Europa

No segundo dia do Portugal Renewable Energy Summit 2023 falou-se dos desafios europeus, das energias renováveis, da necessidade de criar políticas integradas, e dos objetivos do Plano Nacional de Energia e Clima 2021-2030. O evento da APREN conta com o Expresso como media partner

Os desafios dos centros electroprodutores da atualidade, o desenho do Mercado Europeu de Electricidade, o autoconsumo e as comunidades de energia e os grandes desafios europeus para as energias renováveis. Estes foram alguns dos temas em destaque no segundo e último dia do Portugal Renewable Energy Summit 2023, evento organizado pela Associação de Energias Renováveis que conta com o Expresso como media partner.

Estas foram as principais conclusões:

Autarquias

  • Quando se trata de instalar painéis fotovoltaicos, um dos principais entraves pode ser as autarquias ou a própria população local. Este é um dos principais desafios dos eletroprodutores. Em média, diz Manuel Silva (Aquila Clean Energy, Head of Development and Construction), a experiência global para o licenciamento de projetos solares é “de três a cinco anos. Se somarmos dois anos de construção, é muito tempo.” As opiniões convergem: pouco diálogo com as autarquias e populações. “O Governo foi bastante ativo nesta matéria. Perdeu-se flexibilidade e há menos cooperação. Se apresentarmos um projeto, as entidades vão-se pronunciar, e nós temos de nos adaptar. Há menos diálogo. E o que acontece na prática é que acumulamos chumbos”, afirma.

Autoconsumo

  • O recurso a painéis solares fotovoltaicos permite produzir e consumir energia para privados e indústria. Mas os desafios são grandes: como afirmou Francisco Ramos Pinto (Resul, Executive Manager), “o autoconsumo vive do retorno. “O autoconsumo vive de um payback. Se não for rentável não faz sentido.” José Basílio Simões (Cleanwatts, Presidente & Co Fundador) tem feito vida deste tema das comunidades de energia. “Temos mais de 200 comunidades de energia contratadas, mas ainda sem resultados práticos.” Existem “mais de 40 comunidades licenciadas, mas não podemos vender a energia aos membros, porque falta licença”.

Europa

  • Num debate sobre o desenho do mercado elétrico, a eurodeputada portuguesa, Maria da Graça Carvalho, disse que apesar das diferenças dos vários partidos políticos no Parlamento Europeu, a posição final tem as linhas que considerava importantes. Objetivo: dar prioridade ao consumidor. “Tem de haver uma política social que ajude os consumidores vulneráveis, políticas de investimento, atrair investimento público e privado. Para isso "precisamos de condições de estabilidade”, afirmou e “considerar todos os consumidores, individuais, famílias, ou indústrias”. Para tal, será necessário um conjunto de medidas e incentivos com menos dependência do preço, encorajando soluções como o autoconsumo.

Descentralizar

  • Jorge Vasconcelos (NEWES, Chairman) lembrou que "há 18 meses, este debate sobre a reforma da eletricidade era impensável. “A maior parte das pessoas achava que era impossível. Havia um problema macroscópico entre uma política integrada de energia e as regras de funcionamento dos mercados de eletricidade e gás natural, que foram implementados na década passada.” Além disso, notou, havia também um problema invisível: a segurança do abastecimento. Mas tudo mudou em junho de 2022 quando a presidente do Parlamento Europeu alertou para uma necessidade de reforma dos mercados da energia. “A reforma foi iniciada e em março deste ano houve propostas de revisão legislativa que estão neste momento em fase final.” Ainda assim, trata-se apenas do primeiro passo de “algo que terá de ser muito mais profundo.”

Metas

  • O Plano Nacional de Energia e Clima 2021-2030 foi outro dos temas em discussão neste segundo e último dia do Portugal Renewable Energy Summit 2023. Com metas ambiciosas, será necessário implementar reformas estruturais no que respeita às energias renováveis. “Sem dúvida nenhuma, o nosso desafio, para permitirmos um grau de penetração de renováveis a 100%, é a procura da energia final, com uma participação mais ativa dos consumidores nos mercados.”, disse Rafael Gómez-Elvira (NEMO Committee, Chairman). A meta “é a descarbonização. Se não atingirmos um grau de eletrificação a sério, não vamos atingir os nossos objetivos de energia do vento e solar”. Para tal será necessário oferecer preços mais baixos e competitivos e atrair a indústria para que os mercados de curto prazo possam oferecer eficiência energética a preços reduzidos. “Os sinais de preço a curto prazo vão facilitar o desenvolvimento da flexibilidade e a inovação.”