Encontrar novas formas de tratar a obesidade e de detetar, antecipadamente, sinais de doenças neurodegenerativas como a Alzheimer foram os temas dos dois trabalhos que venceram a 66ª edição dos Prémios Pfizer. Os galardões foram entregues esta quarta-feira, no Teatro Thalia, em Lisboa, às equipas lideradas pelos investigadores Henrique Veiga Fernandes, da Fundação Champalimaud, e Tiago Gil Oliveira, da Escola de Medicina da Universidade do Minho. O prémio foi de €30 mil para cada projeto.
“É muito importante não só premiarmos, como estimularmos e motivarmos mais investigadores”, disse a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior durante a intervenção na cerimónia. Elvira Fortunato, também ela investigadora científica reconhecida e galardoada com o Prémio Pessoa 2020, garantiu que “potenciar a investigação na área da saúde em Portugal” é uma prioridade para o Governo que integra desde março.
“Mais ciência e mais inovação depende, sabemos bem, de mais financiamento. Estamos, por isso, comprometidos com o reforço do investimento público em investigação e desenvolvimento no aumento efetivo de 3,5% na dotação orçamental da Fundação para a Ciência e Tecnologia”, acrescentou ainda.
Para o professor e diretor do Centro Clínico de Braga, Nuno Sousa, não há dúvidas sobre a importância de apostar mais na produção de conhecimento científico no país. Garantir tempo de investigação clínica aos médicos, investir nas infraestruturas científicas e potenciar a colaboração entre instituições em rede são, defendeu, medidas fundamentais para “fazer da ciência aquilo que ela merece”. O académico dirigiu-se à ministra para pedir ainda “uma política de previsibilidade” na atribuição de financiamento público a projetos de investigação. “Isto é muito importante”, apontou.
Paulo Teixeira, diretor-geral da Pfizer Portugal, diz acreditar “que Portugal tem condições para ser uma referência internacional na ciência” e destacou “uma superior qualidade nos trabalhos científicos” candidatos à 66ª edição dos Prémios Pfizer. A iniciativa, promovida há mais de seis décadas em parceria com a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, contou este ano com 58 candidaturas – 37 na categoria de investigação básica e 21 em investigação clínica.
Conheça abaixo os projetos vencedores.
Conheça os premiados da 66ª edição dos Prémios Pfizer
Investigação Básica
Pela quarta vez, Henrique Veiga-Fernandes volta a vencer o galardão atribuído pelos Prémios Pfizer, que conquistou em 2014, 2016, 2020 e 2022. Desta feita, o investigador da Fundação Champalimaud encontrou um novo eixo de comunicação entre o sistema nervoso e as células imunitárias no tecido adiposo que permite controlar o aumento de peso e a obesidade. Através desta conversa biológica, a equipa liderada por Veiga Fernandes descobriu ser possível provocar um aumento do consumo de gordura no tecido adiposo e, por consequência, reduzir o peso do doente. As conclusões do trabalho premiado abrem caminho ao desenvolvimento de novas terapêuticas dirigidas ao combate à obesidade, uma doença que afeta cerca de dois terços da população portuguesa e que atua como fator de risco oncológico e em patologias cardiovasculares. Vale a pena assinalar que o cancro e as doenças do foro cardíaco constituem as principais causas de morte em Portugal, o que faz deste projeto um importante contributo para a saúde pública.
Investigação Clínica
São centenas as doenças neurodegenerativas que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Entre as principais, a Alzheimer é uma das mais comuns. A Organização das Nações Unidas estima que cerca de 60% a 70% dos casos de demência sejam causados por esta condição. E porque o cérebro é, ainda, um mistério para os cientistas, a equipa da Escola de Medicina da Universidade do Minho, liderada por Tiago Gil Oliveira, desenvolveu um projeto que tem como objetivo encontrar sinais que permitam detetar antecipadamente o desenvolvimento deste tipo de patologias. “O grande objetivo deste trabalho é criar novas metodologias diagnósticas para as doenças neurodegenerativas”, explica o investigador, que quer ajudar a desenvolver novas terapêuticas. O trabalho agora reconhecido recolhe dados clínicos de doentes que tenham falecido com Alzheimer e analisa ressonâncias magnéticas feitas em vida em busca de assinaturas clínicas que permitam compreender como se desenvolve a patologia, de forma a poder usar a informação recolhida para aumentar o número de diagnósticos atempados.