O sector financeiro e a banca enfrentam tempos singulares, na ressaca de dois anos de pandemia, e a lidar com uma guerra a Leste com impactos que já se fazem sentir na economia e cujos efeitos poderão ainda agudizar-se. Mais do que nunca, é hora dos responsáveis pelo sector olharem para dentro e perceberem como podem deixar as organizações mais capazes de responder aos desafios que se avizinham.
A sustentabilidade é um desses desafios, e os mecanismos da economia verde têm que fazer cada vez mais parte do quotidiano das operações bancárias, sob pena de estas saírem prejudicadas para o presente e para o futuro. "Enquanto que a pandemia promoveu mais reações a nível de aceleração da transformação digital dos bancos, o contexto do conflito Europeu pode acelerar algumas respostas a nível de ESG [sigla que integra as palavras Environmental (Ambiente), Social (Social) e Governance (Governança Corporativa)] sendo, de qualquer forma obrigatória, a revisão dos planos iniciais e adequação a uma nova realidade", garante Ana Almeida, senior manager da área de Serviços Financeiros da Accenture Portugal.
A responsável é uma das presenças asseguradas no CEO Banking Forum - projeto que junta Expresso e Accenture e cuja 5ª edição acontece esta quarta-feira, 11 de maio - e acredita que "o sector bancário pode ter um papel preponderante no estímulo a uma maior utilização de energias sustentáveis, cumprindo assim um fator ESG, e permitindo uma redução da dependência europeia a combustíveis fósseis".
Na opinião de Assunção Cristas, responsável da Plataforma de Serviços Integrados ESG e da área Ambiente da Vieira de Almeida, "a inflação e o aumento das taxas de juro" que estão a marcar a atualidade "são inevitavelmente facas de dois gumes para o sector financeiro, já que de um lado aumenta a rentabilidade, mas do outro aumenta o risco e com ele a possibilidade de incumprimento". Por isso, "depois do trabalho de limpeza dos balanços dos bancos ao longo dos últimos anos, a esperança é que o sector bancário tenha ficado suficientemente robusto, capaz de enfrentar novos embates que porventura venham a ocorrer".
"O sector financeiro português tem o seu dinamismo e está motivado para fomentar e acolher a inovação. Temos sinais claros de aquisição de consciência para os temas da sustentabilidade, como as emissões de greenbonds [papéis de dívida emitidos especificamente para financiar projetos com benefícios ambientais] portugueses", afirma Assunção Cristas.
"Penso que, inevitavelmente, a agenda dos atores do sector financeiro tem que ser marcada pelas exigências de sustentabilidade", aponta a ex-ministra da Agricultura e do Mar. "Vamos certamente ter um incremento dessa exigência, tanto por via regulatória como por imposição dos próprios clientes, investidores ou depositantes. Os temas ambientais e sociais estão no centro da transformação que já está a acontecer". E se parece certo que "alguns pensaram que a pandemia levaria a uma inversão da tendência", tal "não aconteceu" lembra Assunção Cristas. Com a certeza que "há uma convicção cada vez mais generalizada de que o caminho não pode ser igual ao que tivemos no século XX".
Acrescenta a administradora executiva da Caixa Geral de Depósitos, Maria João Carioca, que "o sector financeiro mudou muito nos últimos anos". Só para se ter uma noção, a banca em 2015 "detinha €49,82 mil milhões em empréstimos não produtivos". Em "alguns anos", foi possível descer esse valor para €13 mil milhões, "cerca de 4% do total de crédito".
"Vão sempre surgindo desafios pela frente, situações inesperadas como a pandemia e a guerra que vivemos atualmente na Europa", mas segundo Maria João Carioca "temos uma banca capaz de responder presente perante as adversidades". No que toca à sustentabilidade e impacto social, a consciência da importância do tema leva a CGD a assumir o objetivo de ser líder "no financiamento sustentável em Portugal, apoiando a transição para uma economia de baixo carbono e financiando projetos com impacto social na vida das pessoas". Como tal, o banco pretende "investir €1,5 mil milhões em financiamento ESG até 2024", 30% dos quais já foram aplicados.
€6,5
mil milhões em dívida verde já foram emitidos por empresas portuguesas, de acordo com os dados mais recentes
Desafios para cujas possíveis soluções pode conhecer resposta no evento de quarta-feira. Para saber tudo, consulte em baixo a ficha do evento.
CEO Banking Forum
O que é?
A 5ª edição do CEO Banking Forum irá reunir um conjunto de especialistas de renome num debate centrado no futuro do sector dos serviços financeiros e no papel da indústria para a dinamização de comportamentos mais sustentáveis.
Quando, onde, e a que horas?
11 de maio, no edifício do grupo Impresa, a partir das 10h para o debate da parte da manhã, e emissão na SIC Notícias, às 23h, para a conversa com os CEO.
Quem são os oradores?
Debate da manhã
- Assunção Cristas, responsável da Plataforma de Serviços Integrados ESG e da área Ambiente, VdA
- Maria João Carioca, administradora executiva, Caixa Geral de Depósitos
- Margarida Ramos, Co-CEO, zero CO2
- Ana Almeida, senior manager da área de Serviços Financeiros, Accenture Portugal
Debate da noite com transmissão na SIC Notícias
- Joäo Pedro Oliveira e Costa, CEO, BPI
- Miguel Maya, CEO, BCP
- Paulo Moita de Macedo, CEO, CGD
- António Ramalho, CEO, Novo Banco
- Pedro Castro e Almeida, CEO, Santander
Porque é que este tema é central?
Numa altura em que o rescaldo da pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia oferecem motivos de preocupação constantes, é importante que os agentes financeiros e os responsáveis pelo sector bancário tenham consciência da necessidade de colocar a sustentabilidade cada vez mais no centro do sector. A economia verde veio para ficar e quem não conseguir acompanhar corre o risco de perder a corrida.
Onde posso ver?
Para assistir ao debate da parte da manhã, é inscrever-se neste LINK para ter acesso à transmissão em direto. Para ver o debate entre os CEO, é acompanhar a transmissão na antena da SIC Notícias.