São mais de 6000 as doenças raras conhecidas, com impacto direto em cerca de 600 mil pessoas em Portugal, e mais de 300 milhões em todo o mundo. Porém, as patologias com esta classificação na União Europeia, registam uma incidência de uma em cada 2000 pessoas, tornando mais difícil o desenvolvimento dos chamados medicamentos órfãos.
“São doenças que atingem ambos os sexos, caracterizadas por uma diversidade enorme de sinais e sintomas que variam de doença para doença”, explica Luís Brito Avô, coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças Raras da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI). Esta multiplicidade de prognósticos tem consequências para os doentes: maior dificuldade no diagnóstico, por desconhecimento, e um número muito reduzido de terapêuticas.
Entre todas as patologias registadas, apenas 5% tem algum tipo de fármaco disponível. Esta tem sido uma preocupação de associações de doentes, grupos de trabalho constituídos por médicos e investigadores, mas também do Estado – em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) está atualmente a rever a Estratégia Integrada para as Doenças Raras, cuja versão anterior terminou em 2020. “Houve avanços muito significativos nestes últimos cinco, dez anos”, refere Luís Brito Avô. Ainda assim, existe um longo caminho a percorrer para garantir o acesso generalizado destes doentes à inovação científica e clínica.
“O problema do cancro do ovário é que não dá muitos sintomas. Geralmente, quando há sintomas, já é tarde demais”, afirma Cláudia Fraga, presidente do Movimento Cancro do Ovário e outros Cancros Ginecológicos
Dificuldades na oncologia
Embora as doenças oncológicas estejam entre aquelas que mais atenção mediática e científica merecem, em grande medida por ser a segunda causa de morte na União Europeia, as dificuldades no diagnóstico e tratamento são maiores quando falamos de formas raras de cancro. É o caso do cancro do ovário, que afeta cerca de 600 mulheres em Portugal e é responsável pela morte de 30 doentes por ano. “O problema do cancro do ovário é que não dá muitos sintomas. Geralmente, quando há sintomas, já é tarde demais”, contextualiza Cláudia Fraga. A presidente do Movimento Cancro do Ovário e outros Cancros Ginecológicos (MOG), também ela vítima da doença, sublinha que o diagnóstico precoce é fundamental para garantir boas perspetivas de sobrevida. “Se for descoberto precocemente, tem 70% de probabilidade de cura”, aponta. Quando é detetado em fase avançada, a percentagem desce para valores entre os 15% e 20% de sobrevivência ao fim de cinco anos.
A atuação médica imediata é, por isso, essencial. As doentes que conseguem ultrapassar este cancro têm fortes possibilidades de ver a doença regressar três a cinco anos após o primeiro diagnóstico. A solução para minimizar o risco passa pela toma de medicação específica, que em Portugal apenas é comparticipada para doentes de cancro do ovário com mutação nos genes sBRCA ou Gbrca. “Estas doentes são apenas 25% do total. Restam as ouras 75% que não têm acesso”, lamenta Cláudia Fraga. Até porque, critica a responsável, “sai muito mais caro” ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) não disponibilizar esta terapêutica de primeira linha, já que a ausência de tratamento significa maior número de cirurgias e mais ciclos de quimioterapia. “Não faz qualquer sentido”, reforça.
As dificuldades e os desafios das doenças raras, em particular as oncológicas, estarão em debate na conferência “Acesso à inovação nas doenças oncológicas raras: desafios no cancro do ovário”, uma iniciativa do Expresso com apoio da GSK, que se realiza na próxima terça-feira, dia 10, a partir das 17h30. A transmissão do evento será feita em direto, via streaming, através da página de Facebook do Expresso.
82%
é a percentagem de casos de cancro do ovário que são diagnosticados em fase avançada, quando o tratamento é mais difícil
Acesso à inovação nas doenças oncológicas raras: desafios no cancro do ovário
O que é
A conferência “Acesso à inovação nas doenças raras: os desafios do cancro do ovário”, organizada pelo Expresso com apoio da GSK, está integrada na segunda edição do projeto “Doenças raras, pessoas únicas”. O evento contará com a presença de especialistas nacionais e internacionais - bem como com representantes de associações de doentes oncológicos em Portugal, Espanha e Reino Unido - para debater os principais obstáculos no diagnóstico e tratamento destas patologias.
Quando, onde e a que horas?
Acontece na próxima terça-feira, 10 de maio, a partir das 17h30. A conferência será transmitida em direto, via streaming, na página de Facebook do Expresso.
Quem são os oradores?
- Maurizio Borgatta, diretor-geral da GSK Portugal;
- Domenica Lorusso, oncologista ginecológica (Itália);
- Jalid Sehouli, oncologista gonecológico (Alemanha);
- Mafalda Casa-Nova, oncologista;
- Pilar Barretino, oncologista (Espanha);
- Carmen Eleta, ASACO (Espanha);
- Cláudia Fraga, Movimento Cancro do Ovário (MOG);
- Rachel Downing, Associação Target Ovarian Cancer;
- António Araújo, diretor do Oncologia Médica do Centro Hospitalar da Universitário do Porto;
- Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde;
- Maria da Graça Carvalho, eurodeputada;
- Manuel Pizarro, eurodeputado;
- Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed.
Porque é que este tema é central?
Em Portugal, a Aliança Portuguesa para as Doenças Raras (RD-Portugal) estima que as cerca de seis mil patologias conhecidas afetem mais de 600 mil pessoas. Apesar de serem muitos, em conjunto, são poucos os doentes por cada uma destas doenças, dificultando a aposta em investigação científica e clínica que permita encontrar soluções terapêuticas. Quando a lupa recai nas doenças oncológicas raras, os dados mostram que, por exemplo, no cancro do ovário, o acesso à terapêutica mais avançada disponível é limitado a doentes com cancros com mutação, deixando de fora 75% das pessoas. Com a presença de especialistas em medicina, mas também de representantes de doentes e decisores políticos, esta conferência pretende abordar os desafios que se colocam nesta área e, sobretudo, traçar caminhos para a solução.
Como posso ver?
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