Desde que assumiu os comandos da The Fladgate Partnership, a empresa ligada ao vinho do Porto há 329 anos, com marcas como Taylors, Croft ou Fonseca, tem na inovação uma assinatura. Criou um Porto Rosé, lançou um raríssimo Scion, por dois mil euros a garrafa, e este verão apresenta um Porto Tónico em lata. Projetos turísticos como o The Yeatman e o World of Wine — o maior investimento turístico na Europa em 2020, na ordem dos €100 milhões — seguem a mesma linha. Focado nas soluções, Adrian Bridge acredita que em 2023 o turismo na região regressa aos níveis de 2019.
É conhecida a sua militância ambiental... No turismo e nos vinhos, como se assegura a sustentabilidade?
Nos vinhos é relativamente fácil garantir que fica mais próximo do carbono neutro, alterar as quintas para modos de produção sustentável, eliminar a erosão dos solos plantando melhor, retirar pesticidas e herbicidas... As videiras estão numa zona onde são quase impossíveis outras culturas, por isso ajudam a sustentar economias em áreas remotas. São geralmente estruturas familiares. Muitas foram plantadas pelos pais, e nós agora plantamos para os nossos filhos. O vinho é o único produto agrícola vendido com marcas fortes: quando bebemos um vinho, vem com o nome do produtor, o local de produção. Se falar com o produtor, ele pode indicar onde estão as videiras. Em qualquer parte do mundo sabemos de onde vem o vinho, o que não acontece com outros produtos agrícolas.
E no turismo?
O turismo pode ser bom pela nossa capacidade de promover, ensinar e sensibilizar as pessoas sobre a realidade da viticultura. Ouço argumentos contra porque implica que as pessoas usem aviões, que deixam grande pegada carbónica. É verdade, mas hoje os aviões são mais eficientes e o turismo é a melhor forma de transferir dinheiro do mundo rico para o mais pobre.
Até que ponto o vinho do Porto depende do turismo?
A quebra nas vendas no ano passado rondou 40% em Portugal. Não sendo muito científico, é razoável presumir que os turistas consomem 40% do vinho do Porto vendido no país.
O turismo no Douro precisa de mais conteúdo?
O conteúdo ajuda e obviamente não é sustentável se todas as quintas fizerem mais uma sala de provas. É preciso coragem para fazer coisas diferentes. Há possibilidade de mais? Sim, mas ainda é cedo. O túnel do Marão ajuda, embora seja uma faca de dois gumes, porque permite ir e regressar ao Porto no mesmo dia. Com mais conteúdo, haverá maior procura pelos hotéis. Acredito que o turismo é importante. E por isso temos de preservar o que atrai os turistas e, ao mesmo tempo, evoluir. A dependência que o Douro tem do vinho do Porto não é sustentável nem saudável. O Douro vai alterar-se nos próximos 20 anos porque, à medida que muitos pequenos lavradores desaparecem, os seus filhos não querem seguir o mesmo estilo de vida. Precisamos de mais dinâmica dentro das aldeias, pessoas com diferentes formações: podem abrir um restaurante, ter um táxi, alugar bicicletas, fazer escalada...
Quais são os maiores desafios que o turismo enfrenta nos próximos anos?
A pandemia vai passar, mas não sei se haverá mais uma crise económica. Há muita gente com medo agora. É mais evidente, desde junho, que os restaurantes, por exemplo, só compram as garrafas que vão vender hoje ou amanhã à noite. Ninguém quer assumir stock. E esta fragilização do sistema económico demora algum tempo a recuperar. As regras sempre a mudar confundem as pessoas. Precisamos de mais clareza e liderança nas medidas. São grandes preocupações o fluxo de voos para o Porto, já que a estratégia da TAP não é clara, e o facto de atualmente ser quase impossível arranjar pessoal. Isto implica aumento de preços de mão de obra, que entra no custo do produto final e acarreta riscos. Mas estou otimista em relação à recuperação. O próximo ano será bom e 2023 será igual a 2019. Não em todos os destinos, na Europa ou em todo o país, mas no Porto, Douro e Norte em geral.
No World of Wine (WOW) optaram por ser uma montra do melhor que se faz no país, muito além do vinho do Porto...
O WOW é um novo centro cultural que oferece mais conteúdo à cidade, fundamental porque há muito menos turistas do que viajantes. O que conta são as experiências, e essas implicam conteúdo. Quem está interessado em vinho provavelmente quer saber mais sobre a cortiça, um negócio muito importante e que ajuda a sublinhar a importância do país e dos seus vinhos. Queremos construir um ciclo positivo. Espero que o WOW funcione como um catalisador para a regeneração desta parte de Vila Nova de Gaia, e isso já está em curso. Temos o Museu da Moda e do Têxtil, que é um negócio importante no Norte; algumas empresas de vinho do Porto têm inclusive algumas raízes neste sector, mas não há uma representação no Porto. É interessante para as pessoas e tem a capacidade de lembrar que Portugal é importante no têxtil mas tem também moda e design, com vários criadores famosos. Se correr bem, as indústrias criativas podem começar a comprar armazéns à volta do museu. Um cluster é positivo para a cidade. Se é positivo para a cidade, também é para nós. O trabalho do nosso grupo tem sempre esta ligação. Não estou muito preocupado que seja só para nós.
Como tem sido gerir um projeto da magnitude do WOW no ano mais difícil de sempre?
Tem de ser. Na altura podia adiar a abertura, esperar. Mas quem imaginava que em julho de 2021 ainda estaríamos aqui de máscara? É complicado? Sim. É preciso boa vontade, uma equipa dedicada. Em tempos de crise, é mais importante a liderança do que a gestão. Porque as pessoas têm medo, mas com liderança avançam. O WOW está aberto, está cheio, funciona. Damos emprego e estamos até a procurar mais colaboradores. Precisamos de mais visitantes, não por falta de design ou de qualidade mas de turistas. Acredito que vão voltar. Quando? Não sei, mas vou trabalhar para isso.
O que tem de saber acerca do Prémio
O projeto
Com os olhos postos no futuro, a terceira edição do Prémio Nacional de Turismo vai premiar negócios e projetos nacionais que se distingam como casos de sucesso em Portugal. A iniciativa do BPI e do Expresso conta com o patrocínio do Ministério da Economia e da Transição Digital, o apoio institucional do Turismo de Portugal e o apoio técnico da Deloitte
As categorias
- Turismo autêntico Projetos que apresentam oferta abrangente e equilibrada do ponto de vista territorial, bem como da utilização e alavancagem de recursos locais e endógenos
- Turismo gastronómico Projetos que se destaquem por oferta gastronómica diferenciada e autêntica, alicerçada na valorização e promoção da gastronomia regional e nacional
- Turismo inclusivo Projetos que promovam um reforço da relação com o consumidor, através da comunicação ou de iniciativas que visem a sua inclusão e fidelização
- Turismo inovador Projetos que apresentem uma oferta inovadora e a utilização de ferramentas e meios digitais para a comunicação, distribuição e análise do desempenho
- Turismo sustentável Projetos que se distingam pela sustentabilidade ambiental, económica e responsabilidade social subjacentes à estratégia de médio/longo prazo
Prémio Carreira
À semelhança das edições anteriores, será ainda distinguido com o Prémio Carreira uma personalidade que se tenha destacado com um importante contributo para o sector do turismo
Datas importantes
Para se habilitar a vencer o Prémio Nacional de Turismo apresente a sua candidatura até 31 de julho de 2021
Onde se candidatar
Encontra toda a informação sobre o regulamento, categorias, critérios de avaliação e prazos no site oficial do prémio
Textos originalmente publicados no Expresso de 30 de julho de 2021