Projetos Expresso

"Estamos a criar os profissionais do futuro que provavelmente vão ter profissões que nem têm nome"

Projetos Expresso. A garantia é de Inês Lynce (INESC-ID), e foi proferida numa tarde dedicada ao impacto da digitalização na educação que marcou o final do primeiro dia do Fórum Portugal Digital, organizado pelo Portugal Digital e o INCoDe 2030 com o apoio do Expresso

Marta Atalaya (SIC) foi a moderadora de uma conversa que contou com a presença de Delfim Leão (Universidade de Coimbra), Susana Sargento (Universidade de Aveiro), Inês Secca Ruivo (Universidade de Évora), Inês Lynce (INESC-ID) e Rui Oliveira (INESC-TEC)
Nuno Foxe

O ensino e o sector da educação já se encontravam entre as prioridades do Plano de Ação para a Transição Digital, mas a pandemia fez o processo avançar muito mais rapidamente que o inicialmente previsto, com o ensino à distância a tornar-se a norma durante a grande maioria dos últimos meses e a obrigar a desenvolver mecanismos e protocolos que até há pouco tempo pareciam impensáveis. A situação mostrou também as desigualdades tecnológicas patentes na sociedade, e obrigou a um esforço inédito de alocação de material informático para que os alunos não percam o comboio.

Nem tudo foi mau, ouviu-se dizer nos painéis que marcaram a tarde do primeiro dia do Fórum Portugal Digital, organizado pelo Portugal Digital e o INCoDe 2030 com o apoio do Expresso. A covid-19 mostrou que é possível chegar a mais pessoas em qualquer situação geográfica e também que a democratização do acesso ao conhecimento pode ser uma realidade com grande impacto na cidadania. Haja uma aposta continuada na literacia digital e em colocar cada vez mais pessoas em contacto com a internet e ferramentas digitais, seja dentro ou fora da sala de aula.

"Diariamente em cada uma das nossas escolas está a acontecer esta transformação", afiançou o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues. Se é certo que este processo "não começou com a pandemia", também é certo que a "reflexão profunda originada por esta terrível pandemia" está a promover o desenvolvimento rápido de "novas formas de ensinar e aprender". Com a ressalva que a "tecnologia nunca substituirá o trabalho dos professores com os seus alunos".

Trabalho que também ganha dimensão no ensino superior, onde Inês Secca Ruivo, professora da Universidade de Évora, acredita que "estamos a criar os profissionais do futuro que provavelmente vão ter profissões que nem têm nome" e onde se encontra a decorrer um esforço para colocar os recursos da academia ao serviço da digitalização em benefício de todo o ecossistema. "Faz todo o sentido", resume Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a "mobilização para as oportunidades crescentes que a transição digital estimula".

Conheça os principais tópicos de discussão da tarde do Fórum Portugal Digital

Quebrar barreiras

  • A pandemia ajudou a mudar muitas mentalidades e a colocar no centro do debate a necessidade de desenvolver modelos de ensino que incluam o digital na aprendizagem, sem prejuízo do ensino presencial
  • As escolas e alunos receberam equipamentos e estão a receber formação para que as capacidades digitais se multipliquem, como efeito dominó, pela sociedade
  • "Quando falamos de um sistema educativo estamos a falar de muita gente", recorda Maria João Horta, subdiretora geral da Direção Geral de Educação
Tiago Brandão Rodrigues deu o pontapé de saída da tarde do primeiro dia do Fórum Portugal Digital
NUNO FOX

Acesso à internet

  • Espera-se que, em 2025, apenas 10% da população portuguesa não tenha utilizado a Internet, o que será uma descida acentuada face aos 22% registados em 2019
  • A situação ao longo dos últimos meses contribuiu em muito para começar a mudar a realidade, assim como o trabalho de projetos como o MUDA - Movimento pela Utilização Digital Ativa
  • Entre várias metas a cumprir e objetivos traçados, o seu diretor executivo, Alexandre Nilo Fonseca, destacou a "infoexclusão, acima dos 60 anos, muito centrada nas mulheres", como algo a ter em conta

Democratização do conhecimento

  • É como "uma brecha na torre de marfim", defende Delfim Leão, professor na Universidade de Coimbra
  • O acesso mais generalizado ao conhecimento e a abertura a que a pandemia obrigou promete marcar um novo paradigma para o futuro
  • Trata-se do "início de um caminho que levará a uma alteração sistémica no nosso sistema de ensino", atira Maria Fátima Costa, do CFAE Ordem de Santiago