Em Portugal, mais de um em cada três adultos tem pré-diabetes, ou seja, níveis de glicose no sangue mais altos que o normal, o que se traduz num risco maior de desenvolver diabetes. Para ajudar a diminuir o risco de progressão de doença e reduzir a quantidade de fármacos, uma equipa de investigação portuguesa testou o potencial do sumo de mirtilo.
“A nossa ideia era, antes da medicação, intervir com opções baseadas em estilos de vida saudáveis. No passado, tínhamos feito algo relacionado com o exercício físico e agora estávamos interessados em fazer algo relacionado com a alimentação”, afirma Flávio Reis, responsável do projeto FRUITIFY e investigador do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia da Universidade de Coimbra.
Como as doenças crónicas, como a diabetes tipo 2, “são mais difíceis de conter”. O objetivo desta iniciativa era estudar o mirtilo como um suplemento alimentar com funções nutritivas e terapêuticas para prevenir a evolução da pré-diabetes.
O mirtilo foi o fruto eleito devido à elevada concentração de compostos fenólicos, que possuem capacidades antioxidantes e anti-inflamatórias, e por ter propriedades sensibilizadoras da insulina, além da elevada quantidade de fibra contida na casca do fruto. Através de um sumo de mirtilo, a equipa de investigação avaliou a capacidade de este modular a microbiota intestinal, considerando que esta fica desregulada na fase inicial da diabetes e contribuiu para a evolução da doença.
A maioria dos pacientes desconhece que está a desenvolver a diabetes por se tratar de uma fase assintomática, sendo, normalmente, descoberta através de análises. Quando é diagnosticada, “as estratégias que os nutricionistas e os médicos aconselham é a modificação dos hábitos de vida”, como exercício físico ou uma dieta saudável. Por isso, o sumo deste fruto pode ser um poderoso aliado nesta alteração.
“Os animais pré-diabéticos tinham as características da doença: intolerância a glicose, resistência a insulina, algum excesso de peso, alterações de metabólicas hepáticas e renais. E, de facto, os animais pré-diabéticos que tomaram o sumo de mirtilo tiveram uma melhoria a nível celular e molecular”, explica Flávio Reis. Nos animais que mantiveram uma dieta hipercalórica, a sua intolerância à glicose e resistência à insulina também foram melhoradas.
Caso a diabetes progrida, é necessário incluir um tratamento farmacológico. “Os medicamentos existem e ainda bem, mas não são livres da possibilidade de alguns efeitos secundários e, obviamente, que em termos renais e hepáticos, a sobrecarga de fármacos não é benéfica”, lembra o investigador. Numa segunda fase do projeto FRUITIFY, Flávio Reis admite que seria interessante aprofundar como o sumo deste fruto pode complementar a toma de metformina, um antidiabético oral comum no tratamento. Neste caso, o sumo de mirtilo serviria como um complemento para reduzir combinações de fármacos ou evitá-las.
Com os resultados positivos, “surgiram outras ideias e que estão a ganhar forma”. Como o projeto RELEAF, coordenado pela investigadora Sofia Viana, que pretende recuperar os compostos preciosos das folhas dos mirtilos, que normalmente são desperdiçadas, e são “ainda mais ricas” que o fruto.
A ajuda imprescindível dos fundos comunitários
O projeto FRUITIFY foi desenvolvido pela Universidade de Coimbra em parceria com a Universidade Católica e com o apoio da Cooperativa Agropecuária dos Agricultores de Mangualde. Através do programa Compete 2020, recebeu o apoio de 239 mil euros, dos quais cerca de 203 mil euros são do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
Flávio Reis garante há várias fontes de financiamento para a ciência, mas este apoio permite “para fazer um trabalho com alguma consistência, que já permite lançar bases para o futuro”. A ajuda foi “decisiva” para o projeto, além de permitir também “reter alunos de doutoramento e manter os laboratórios com a capacidade de produzir e de fazer boa ciência”.
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