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E se o seu automóvel conseguisse medir a sua saúde cardíaca em permanência?

Através de uma simples interação com o veículo, é possível verificar a identidade do condutor, o seu estado de saúde e emitir alertas em caso de sonolência. A tecnologia pode ainda ser aplicada em casa para monitorizar constantemente a saúde cardíaca

Olena Malik

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte tanto em Portugal como a nível mundial, segundo a Fundação Portuguesa de Cardiologia. Para evitar a incidência destas patologias, realizar exames regulares é uma das formas de prevenção mais eficazes. Um projeto nacional está a idealizar formas de monitorizar o coração com uma simples viagem de carro ou até uma ida à casa de banho.

Com o objetivo de avaliar a saúde, bem-estar e segurança nos veículos, o projeto CardioLeather desenvolveu um couro inovador capaz de registar sinais fisiológicos. “Foi o mais difícil, porque mudar os processos do tratamento do couro para o tornar inteligente, ou seja, para o tornar condutor, era algo que não se fazia”, explica André Lourenço, responsável da iniciativa e cofundador da startup CardioID Technologies.

Sempre que o utilizador conduz, o sistema desenvolvido pelo projeto consegue realizar um eletrocardiograma através do volante. Ao dotar o couro de condutividade, consegue-se medir as diferenças de eletricidade e, assim, efetuar o registo elétrico do sinal cardíaco do utilizador – tal como exame médico. Com estes dados, os algoritmos de inteligência artificial interpretam os padrões cardíacos de forma contínua e em tempo-real, o que permite obter um resultado fidedigno.

No exame convencional é necessário que existam, no mínimo, dois elétrodos no corpo, por isso, desde que haja dois pontos de contacto entre o material e o condutor, é possível colocar este couro inteligente em qualquer lugar dentro ou fora do veículo.

“Com o sinal cardíaco, conseguimos não só monitorizar a saúde da pessoa na perspetiva da cardiologia, mas também monitorizar outros componentes como a identidade do utilizador, porque cada um tem um sinal cardíaco diferente como se fosse uma impressão digital”, afirma ainda André Lourenço. Esta identificação funciona como uma camada de segurança, em especial quando se trata de um motorista profissional, assim como uma forma de recuperação da personalização do veículo. “A impressão cardíaca no volante é uma alternativa mais invisível para a autenticação”, assegura.

Esta tecnologia “torna o veículo uma forma contínua de fazermos exames médicos”, além de ser uma forma de garantir a segurança na estrada e evitar acidentes rodoviários. Com a frequência cardíaca, o sistema consegue avaliar o estado de alerta do condutor e emitir avisos quando deteta sonolência.

Com o sistema testado, a equipa está em conversas “bastante promissoras” com a indústria automóvel, embora esse seja “um processo lento”. “A tecnologia está a ser testada por grandes fabricantes, mas implica desenvolvimentos em todo o espectro de atuação”, até porque o “volante é considerado um dos pontos mais distintivos”. Além dos fabricantes, estão a integrar este sistema em carros já no mercado. De momento, estão a implementar a tecnologia em camiões de longo curso no Brasil.

Além de veículos, o projeto CardioLeather testou ainda vários protótipos como cadeiras, teclados e outros tipos de objetos. Esta interação diária permitiria fazer um exame contínuo, sem qualquer dispositivo, e “desta forma há uma maior probabilidade de perceber realmente a saúde cardíaca, porque uma das dificuldades quando fazemos um eletrocardiograma é que estamos apenas a adquirir poucos segundos”.

André Lourenço revela ainda que estão, atualmente, a testar esta tecnologias em sanitários, o que pode ser extremamente relevante em serviços de cuidados de saúde, como lares. “Conseguimos num sítio onde todos vão e, de forma automática, monitorizar os parâmetros” de saúde de vários utilizadores.

A ajuda imprescindível dos fundos comunitários

O projeto CardioLeather foi liderado pela CardioID Technologies e reuniu a empresa Couro Azul, o Centro Tecnológico das Indústrias do Couro, o Instituto Superior Técnico e a Universidade de Aveiro. Através do programa COMPETE 2020, recebeu o financiamento de 892 mil euros, dos quais cerca de 605 mil euros são provenientes do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

O responsável pelo projeto explica que este apoio permite evoluir os protótipos para estarem mais próximos da sua colocação no mercado. “É impossível queremos fazer tecnologia em Portugal se não houver este tipo de investimento, que permite às empresas despenderem horas de desenvolvimento”, afirma.

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