Quando se visita ruínas pode ser complicado para o visitante imaginar como seria o local originalmente. Mas agora há guias digitais interativos, visitas à distância e conteúdo com realidade aumentada capazes de contornar essas dificuldades - numa altura em que o turismo contribuiu para quase metade do crescimento do PIB em 2023, segundo o Instituto Nacional de Estatística.
O projeto Houdini é um dos que se destaca nesta procura pela inovação nas experiências turísticas, que crescem à medida que a importância deste setor para o país se cimenta. Em causa estão experiências imersivas, que dão “contexto às pedras e contexto histórico ao património”. “Se tivermos um guia, ainda que seja digital, a visita fica muito mais enriquecedora, seja [o visitante] um miúdo, um adulto ou um avô”, afirma Pedro Pereira, diretor-executivo da byAR e coordenador do projeto.
Para proporcionar uma experiência de maior qualidade, através de um dispositivo móvel, como um telemóvel, basta apontar com a câmara para um determinado local no museu ou noutro espaço cultural para visualizar um conteúdo digital. “Criámos layers (camadas) mágicas de interação, ou seja, não existe nenhum marcador, mas o sistema simplesmente reconhece o espaço, que nós pré-definimos através da plataforma”, explica. Esse tal conteúdo traduz-se numa personagem histórica, que age como um guia.
No projeto-piloto testaram esta ideia no Museu do Côa com o Cuda, um jovem pré-histórico que acompanha os visitantes na sua visita e vai lançando questões, através de tecnologias de interação por voz. É “quase como um jogo em que tu aprendeste isto, agora diz-me se realmente sabes o que aprendeste”, diz Pedro Pereira. Com recurso a inteligência artificial, este guia virtual pode ainda responder a questões colocadas pelo visitante.
O objetivo é que, consoante o espaço cultural, se desenvolva uma personagem adequada à narrativa histórica. “Para um palácio, podemos ter uma personagem que pode ser tanto o rei como a cozinheira”, ou até ambas. O coordenador do Houdini salienta ainda que esta personagem pode ser “um guia que apoia o próprio guia, ou seja, é uma personagem que pode fazer uma introdução e depois o guia complementa com outras informações”.
O uso desta tecnologia também se deve ao facto de o projeto Houdini quer atrair um público mais jovem aos espaços culturais. “É um público que, por norma, considera que uma visita ao museu é chata e desinteressante”, por isso, ter um guia que lança uma espécie de jogo é um “chamariz para a experiência”. Ainda assim, Pedro Pereira considera que esta interação “é facilmente transponível para as outras faixas etárias”.
Outro elemento “disruptivo” deste projeto é a possibilidade de ter a realidade aumentada à distância. Esteja “em casa, na China ou na Austrália”, o turista pode fazer uma visita pré-definida ao espaço com o apoio da tal personagem. “Isto tudo em tempo real”, acrescenta.
O sistema desenvolvido no projeto permite ainda a sua aplicação em recriações históricas. No caso de um local parcialmente destruído, “é pedido um grande esforço de imaginação” para idealizar como seria, mas “se queremos passar um bom conhecimento, uma boa experiência do que seria aquela realidade, então temos de mostrar e esta é uma forma de mostrar”.
“A vontade ou a necessidade deste tipo de experiências é cada vez maior e cada vez mais estamos a ser requisitados para criar este tipo de experiências”, afirma. A utilidade do Houdini vai além da criação de experiências turísticas, ao permitir acessibilidade na visita. “Nem todos podem caminhar à vontade, portanto é possível [com este sistema] estar num único sítio e visitar todo o espaço sem ter de sair daquele local” ou até visitar espaços que não estão acessíveis ao público.
A ajuda imprescindível dos fundos comunitários
O projeto Houdini foi desenvolvido pela empresa byAR, em parceria com o Instituto Politécnico de Viana do Castelo, a Voice Interaction e a Fundação Côa Parque. Através do COMPETE 2020, recebeu cerca de 641 mil euros, dos quais cerca de 440 mil euros são do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
“Se não houvesse o financiamento, este projeto iria demorar muito mais tempo a ser desenvolvido”, garante Pedro Pereira. Indica ainda que o apoio permitiu estabelecer parcerias e desenvolver um sistema a longo prazo.
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