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Portugal, Espanha e França uniram esforços para reduzir o uso de cobre nas vinhas

Para responder às diretivas europeias que limitam o uso de cobre na viticultura e garantir que o controlo de pragas continuava assegurado, um projeto desenvolveu um conjunto de ideias inovadoras como utilizar plantas para descontaminar os solos e microcápsulas para otimizar a aplicação dos produtos com cobre e diminuir os riscos

O cobre é usado na vinha há mais de 200 anos para controlar as pragas, mas devido aos riscos para a saúde humana e problemas ambientais o seu uso tem vindo a ser restringido por legislação europeia. O míldio é uma dessas pragas, umas das mais devastadoras para as videiras e particularmente persistente em regiões húmidas. Para tentar encontrar alternativas para este dilema, Portugal, Espanha e França uniram esforços no projeto COPPEREPLACE.

Quando o míldio afeta a vinha esta doença fúngica “pode devastar perto de 100% da colheita, se não se fizer nada”, explica Mario de la Fuente, gestor da Plataforma Tecnológica del Vino e responsável pelo projeto. “Encontrámos resultados interessantes e promissores com um ou dois produtos alternativos, mas devem ser feitos mais estudos antes de dizer que este é um bom substituto para o cobre”, afirma.

Além do objetivo de encontrar uma alternativa para o cobre, o projeto procurou otimizar a aplicação destes produtos na vinha para minimizar os efeitos e descontaminar as camadas superiores do solo. Para desenvolver a investigação, o projeto COPPEREPLACE recebeu o apoio de 1,64 milhões de euros através do programa Interreg, do qual cerca de 1,21 milhões de euros são provenientes do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

Terminado em 2023, o projeto apresentou os resultados a alguns deputados do Parlamento Europeu, que tratam de questões de agricultura, para ajudar na preparação de uma nova revisão sobre a diretiva da produção biológica. “Eles queriam conhecer em primeira mão os recursos do projeto”, afirma.

Como surgiu a ideia de criar o COPPEREPLACE?

Um consórcio dentro do sector vitivinícola estava muito preocupado, em algumas regiões, com a aplicação de cobre na viticultura. Depois também houve questões legislativas em 2018, se bem me lembro, com a última revisão do regulamento da produção biológica, que entrou em vigor este ano. As pessoas estão muito sensíveis, por assim dizer, ou preocupadas com isso, porque recentemente com a legislação apareceu uma redução drástica do uso do cobre na agricultura em geral e o sector vitivinícola diz: “ok, devíamos tentar procurar outra alternativa ou algo para reduzir a utilização de cobre em algumas áreas”.

Por que motivo é aplicado cobre nas vinhas?

A principal razão é o controlo do míldio em geral. Trata-se de uma doença fúngica e os fungos não matam a planta, pelo contrário comprometem toda a colheita. Afetam o cacho, desfolhando o cacho, destruindo também as folhas e, dependendo do grau de ataque, podem causar vários danos.

Quais eram os objetivos do projeto?

Infelizmente, não encontrámos uma substância razoável para substituir o cobre na aplicação nas vinhas. Mas um pilar do projeto é tentar encontrar produtos alternativos, testámos 10 ou 12 diferentes, com vários graus de controlo e de sucesso. Mas outro pilar é este: se devemos aplicar cobre na vinha porque não há alternativa, então como podemos otimizar a aplicação? Portanto, há outra tarefa no projeto dedicada apenas à otimização da aplicação, o que significa arranjar maquinaria, tentar trabalhar na dispersão – quando se está a aplicar uma pulverização perde-se muito produto, dependendo do ajuste da máquina e das doses da máquina.

No COPPEREPLACE há três grupos de trabalho técnicos: o primeiro a trabalhar em alternativas, o segundo a trabalhar na otimização da aplicação e no terceiro concentramo-nos não só em otimizar a aplicação, mas na redução da quantidade de cobre com o mesmo controlo de que um tratamento regular.

O terceiro objetivo é o principal problema com o cobre. Este é um metal pesado que se estende nas camadas superiores do solo, o que contamina do solo nos primeiros perfis, o que pode causar alguns danos à micro e macrofauna, à flora, etc.

De que forma descontaminaram os solos?

Uma delas é a utilização de uma espécie de planta que pode extrair o cobre do solo superior e fixá-lo na sua estrutura. Estão a plantá-lo como um cereal, não é um cereal, mas parecido um cereal e, ao fazê-lo, remove-se o cobre do solo.

Outra abordagem no projeto são as pessoas que trabalharam a estrutura do solo, os engenheiros, podem aplicar alguma substância para juntar as partículas de cobre em algumas partes dos solos, tentar removê-las com maquinaria e deitá-las fora.

Quais foram outras soluções desenvolvidas?

Devemos aplicar a pulverização, colocando o produto em água e aplicando o spray diretamente nas folhas, colocar o produto nas folhas e no cacho para tentar proteger a planta dos fungos. Esta é uma aplicação, mas este produto normalmente é um pó. Durante o projeto testámos com microcápsulas, isto é, uma espécie de micro comprimidos com o produto dentro e estes comprimidos podem atrasar a infestação durante algum tempo, evitando a estação das chuvas. Porquê? Porque a chuva lava a planta e o produto vai finalmente para o solo, o que significa que já não está mais a proteger a planta. Assim, este tipo de microcápsulas é mais retido nas folhas e no cacho e, desta forma, é possível reduzir o número de tratamentos necessários para controlar o míldio.

Conseguiram encontrar uma alternativa ao cobre?

Para as nossas conclusões serem mais robustas, precisamos de mais anos para testar em várias condições. Porquê? Porque, de facto, 2021 e 2022 foram anos quentes e este era o problema: a doença fúngica em anos quentes não é um problema na vinha, porque também não há desenvolvimentos. Eles não precisam de muito calor, primaveras e verões para se desenvolverem e condições de humidade são um cenário ideal. 2021 e 2022 foram anos quentes e 2022 até foi muito seco. Por isso, não interessa o que se teste na vinha para controlar o míldio a 100% porque não há míldio, por isso, é mais fácil. Esta é a razão pela qual precisamos de mais anos para testar os nossos produtos: quando as condições ambientais não forem favoráveis para a vinha e forem muito mais favoráveis para a doença.

Quais são os próximos passos do COPPEREPLACE?

Podemos esperar um COPPEREPLACE 2.0 ou algo do género. De facto, estamos a trabalhar numa nova proposta para a Comissão [Europeia], mas juntando também os alemães, porque na Alemanha há um enorme problema com o míldio e em Itália também.