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Uma casa inteligente segura para o idoso: sistema utiliza sensores e inteligência artificial para avisar o cuidador em caso de emergência

O objetivo do projeto Safe-Home era garantir que os idosos conseguissem viver na sua própria casa de forma “completa, saudável e gratificante”. Para isso, desenvolveram um sistema com sensores de movimento e deteção, que através da inteligência artificial, consegue perceber o estado de saúde do idoso e alertar em caso de emergência

Foto de arquivo
Predrag Popovski

Com o avançar da idade, aumenta o risco de quedas, o acidente doméstico mais frequente na população com idade superior a 65 anos. Minimizar os riscos é essencial para garantir a segurança dos idosos que querem continuar a ter uma vida autónoma em sua casa. Com recurso à tecnologia e à inteligência artificial, um projeto desenvolveu um sistema não invasivo que monitoriza o idoso e avisa em caso de acidente.

Em Portugal, a esperança de vida à nascença em 2023 situava-se em 82,5 anos, enquanto na União Europeia estabelecia-se em 81,4 anos, o que ultrapassa os valores anteriores à pandemia de covid-19, segundo o Eurostat. “Estamos a viver mais tempo, o que é ótimo, mas também coloca mais problemas no nosso sistema de saúde”, afirma Ayman Radwan, docente no Instituto de Telecomunicações e coordenador do projeto Safe-Home. Por este motivo, é preciso garantir a segurança dos idosos que vivem sozinhos em sua casa e que não pretendem ir para um lar.

Queremos que os idosos vivam uma vida completa, saudável e gratificante, sem qualquer pressão ou restrição, mas que, ao mesmo tempo, os seus familiares e entes queridos possam ter a certeza de que estão em boas condições de saúde e se houver alguma emergência, são avisados”, explica. Como tal, desenvolveram um sistema em rede com recurso a tecnologias disruptivas para monitorizar o idoso de forma segura e garantindo a sua privacidade.

O sistema foi concebido para funcionar sem intervenção do utilizador, que neste caso pertence a uma geração mais velha, “que não quer utilizar o telemóvel ou que mal sabe utilizá-lo”. Era crucial que a solução fosse independente de um sistema de monotorização integráveis no vestuário, como um smartwatch capaz de avaliar o ritmo cardíaco, que o “idoso pode não o quer usar sempre que está em casa” e, “por vezes, pode nem lembrar-se o carregar”. Face a estes obstáculos, o projeto Safe-Home desenvolveu uma “casa inteligente que não depende do idoso” e que lhe fosse “confortável”.

Esta casa inteligente envolve o uso de sensores para monitorizar a atividade do idoso e detetar algum tipo de acidente. Estes são colocados no chão para detetar as deslocações da pessoa e poder alertar caso não existe movimento durante períodos incomuns. Os sensores são ainda complementados por outros colocados em dispositivos, como na televisão, janelas, portas, interruptores ou até na máquina do café.

“O sensor verá que a pessoa se mexeu, que há um movimento na cozinha e na casa de banho”, mas “depois há uma hora sem movimento”. Para interpretar esta situação, o sistema utiliza inteligência artificial, que realiza a ligação entre o facto de, por exemplo, a televisão estar ligada e a possibilidade de o idoso estar sentado a vê-la, o que evita falsos alertas.

Através desta monotorização, é possível agir rapidamente em caso de acidente. “Se uma pessoa cair, sabemos imediatamente e contactamos o cuidador para avisar para que possa ligar-lhe e verificar se está bem. Se não houver resposta, então essa chamada será encaminhada para a ambulância”, explica Ayman Radwan.

Com uma preocupação em assegurar a privacidade do idoso, o sistema desenvolvido pelo projeto Safe-Home assegura a segurança sem recorrer a câmaras ou microfones. Há “pessoas que se opõe a que [esses sistemas] fossem instalados na sua casa, mesmo que lhes disséssemos que seria uma câmara que não grava vídeos, mas mapas de infravermelhos ou de calor”. “Já fizemos inquéritos e há muitas pessoas que estão muito preocupadas com a sua privacidade”, por isso, estes sensores recorrem apenas à deteção de movimento e vibração do chão com o caminhar do idoso. Ainda assim, caso o utilizador queira é possível integrar no sistema os dados de dispositivos portáteis ou de câmaras.

O sistema Safe-Home é ainda de rápida instalação. O utilizador recebe em casa um técnico “como uma visita igual à que receberia se estivesse a subscrever um novo serviço de televisão, em que “alguém vem, instala o router e a box de TV”.

Embora tenha sido concebido a pensar em pessoas idosas, esta solução pode ser aplicada a outras situações. Pode ser instalado para monitorizar uma pessoa com alguma deficiência ou quem tenha sofrido uma cirurgia e está a recuperar em casa. “Mesmo alguém que esteja lesionado e em reabilitação, isto pode ser utilizado para monitorizar os seus movimentos. O médico pode saber qual a percentagem de tempo em que está ativo para que se possa traçar o perfil da pessoa e saber se está a andar demasiado”, exemplifica Ayman Radwan.

O projeto Safe-Home conseguiu desenvolver uma prova de conceito e testar o sistema na casa de uma voluntária, mas o coordenador alerta que “ainda temos de dar alguns passos para chegar ao mercado”. “Há um grande interesse do mercado sobre o conceito de casa segura inteligente”, mas o que foi desenvolvido nesta investigação destaca-se por não recorrer a câmaras ou dispositivos portáveis.

A ajuda imprescindível dos fundos comunitários

O projeto Safe-Home, integrado num consórcio internacional através da iniciativa CELTIC-NEXT, foi desenvolvido pelo Instituto de Telecomunicações, LVS Universal, Altice Labs, Clynx Health e pela Universidade de Aveiro. Para desenvolver esta solução, foram financiados através dos programas Centro 2020 e Lisboa 2020 em quase um milhão de euros, do qual cerca de 638 mil euros provieram do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

Ayman Radwan garante que sem o financiamento, “não haveria projeto”. “Candidatamo-nos a uma proposta, temos boas ideias, mas não se vai concretizar por falta de financiamento”, explica, considerando os valores necessários para recrutar recursos humanos e desenvolver a investigação.

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